26/06/2011

Inferno na Terra

Falta de respeito, organização e vergonha. A meu ver, essas são as “melhores” palavras para se definir a Festa de Peão de Americana, em especial ontem à noite, no show da dupla Jorge & Mateus. Não sei onde estava com a cabeça quando resolvi ir neste show de horrores. Que fique bem claro que não estou criticando a dupla, que é maravilhosa. Aliás, nem consegui ver o show. Estou falando da festa mesmo, da palhaçada que foi tudo aquilo.

De um lado, uma multidão, mas multidão mesmo, de pessoas tentando se divertir e aproveitar ao menos um pouco daquilo que gastou para estar ali. Do outro lado, pessoas querendo tirar o máximo proveito disso para ganhar dinheiro às custas dos cowboys, peões, piriguetes, famílias, casais e pessoas de bem que estavam ali.

Tinha de tudo naquele lugar. Gente bêbada tropeçando nos outros; gente bêbada caída no chão e sendo carregada pelos policiais e bombeiros; piriguetes que esqueceram de colocar a calça legging e andavam com metade da bunda aparecendo; mulheres dando em cima dos homens descaradamente (que vergonha alheia!); gente vendendo comida a preço de ouro; gente vomitando na praça de alimentação. Enfim, uma pequena demonstração das espécies humanas existentes. Gente grossa, estúpida e mal educada era o que mais tinha. Mas também tinha gente de bem, querendo apenas aproveitar a festa.

Admiro muito a coragem de quem conseguiu enfrentar o mar de gente e chegar perto da arena, porque eu nem tentei. Tive medo de morrer esmagada ou sufocada. Eu e minhas amigas preferimos escolher um local, digamos, mais seguro e apenas observamos o movimento, enquanto aguardávamos o momento em que uma de nós diria “Vamos embora?”. Quando resolvemos ir ao banheiro, a fila era gigantesca, maior que da Montanha Russa do Hopi Hari em dias de grande movimento. A diferença era que andava um pouco mais rápido. Se a fila estava assim imaginem a situação do banheiro! Era de chorar. Pelo menos não cobraram pelo uso.

Resolvemos sair daquele lugar, antes que acontecesse uma tragédia, às duas horas, foi quando a dupla entrou no palco. Paguei R$ 50,00 para não conseguir assistir nada, apenas ouvir as duas primeiras músicas do show, enquanto caminhava 20 minutos rumo ao local onde estava o carro. Terminamos a noite andando sozinhas no acostamento da Anhanguera e pensando na desculpa que íamos dar para o cara do “estacionamento” para não pagarmos R$ 40,00.

Foi o inferno na Terra. Mas graças a Deus, voltamos em segurança para o céu de nossas casas.

12/06/2011

Nada como um dia após o outro

Há momentos em que o mundo parece estar desabando sobre a minha cabeça. De uma hora pra outra tudo o que parecia estar indo bem, cai por terra. De uma hora pra outra o conto de fadas vira história de terror. De uma hora pra outra um turbilhão de sensações ruins toma conta de mim. E vem o desespero e a vontade de largar tudo e sair correndo, sumir do mapa sem deixar rastros. E choro, e grito, e sofro. O coração acelera, as mãos tremem, o corpo padece, o sono não vem. E brigo com Deus. E brigo comigo mesma. A única coisa que me vem à mente é o fundo de um poço. E fico com dó de mim.

Mas aí, Deus entra em cena e traz o sono, nem que seja na base do calmante, e eu durmo. Durmo a noite inteira, enquanto ele cuida da minha recuperação. Chega um novo dia e eu acordo curada. Sinto-me outra pessoa, mais forte, mais viva, com a sensação de que mais uma derrota foi superada. E os dias vão passando. De vez em quando bate o desespero, mas Deus me coloca de volta no rumo certo. E as coisas se acalmam novamente. No final, descubro que aprendi mais uma lição, que amadureci mais um pouco. E descubro que posso ser mais forte do que eu mesma.

Cada pessoa reage de uma maneira às turbulências da vida. Cada pessoa sofre de um jeito. Cada pessoa se recupera de uma forma. Seja lá qual for a sua dor, o que fizeram com você, o que aconteceu na sua vida, lembre-se: continue a nadar. Os tombos fazem parte da vida, assim como as decepções. As pessoas nem sempre são quem gostaríamos que elas fossem. Nem todo mundo é verdadeiro. Muitos lobos se escondem em pele de cordeiro. E você não pode deixar de viver porque alguém lhe magoou ou feriu seu coração. A vida é muito mais do que isso. Nós somos muito mais do que isso. Uma pessoa não pode ser capaz de acabar com nossas vidas, de bloquear nossos corações, de nos tirar o sono. Nós somos responsáveis por nós mesmos. Não transfira essa responsabilidade para terceiros.

Não importa o quanto você se importa, algumas pessoas simplesmente não se importam. Mas não endureça por causa disso, não pense que o mundo está perdido. Os bons ainda são a maioria.

Durante muito tempo eu me fechei para o mundo ao sofrer alguma decepção, em qualquer sentido. Achava que o universo estava conspirando contra mim e que Deus não lembrava da minha existência. Esse comportamento não me levou a nada além de deixar de aproveitar as coisas boas da vida.

Estou prestes a completar 27 anos de existência e sinto que aprendi muita coisa com os tombos que levei. Mas confesso que ainda me surpreendo com a capacidade do ser humano quando caio em armadilhas. E vou continuar me surpreendendo durante toda a minha vida. A diferença é que, com o passar dos anos, as decepções passam a doer menos, porque não são mais novidade.

Na última semana, aprendi mais uma lição de vida. Aprendi que existe uma sutil diferença entre ser sincero e ser cruel: a crueldade fere a alma das pessoas. Mas, mesmo com a alma ferida, é preciso continuar e acordar num novo dia com a certeza de que ele poderá ser diferente. Com a certeza de que a ferida vai cicatrizar e de que sairemos desta mais fortes, mais preparados para a próxima turbulência.

Afinal, nada como um dia após o outro para aprendermos a viver.

05/06/2011

Calmaria da solidão

Não há nada mais calmo do que a solidão. Nada novo; tudo previsível. O telefone não toca, a mensagem não chega, o encontro não é marcado. Não há espera, não há frio na barriga, não há ansiedade, não há medo. Os dias são iguais e as coisas acontecem sempre da mesma forma. E a gente vai vivendo, sem se dar conta de que está se acostumando com isso. Sim, a gente se acostuma, mas não deveria.

A gente se acostuma a não se aventurar, a não cair de bandeja, a evitar dar com a cara no poste. E, com isso, não percebemos que estamos perdendo não só a oportunidade de nos aventurarmos, mas, principalmente, a chance de sermos felizes. A vida só tem sabor se corremos riscos, nos aventuramos, cometemos erros e fazemos loucuras. Se nada disso for possível, é como se faltasse açúcar no doce. Tudo fica sem graça.

Sou mestre em querer entender as coisas. A frase que dita o rumo da minha vida vem de Clarice Lispector: “Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo. Quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação”. Mas estou aprendendo que orientação demais faz mal, dá ruga, causa preocupações desnecessárias, leva à loucura. Ultimamente tenho preferido outra frase dela. “Viver ultrapassa qualquer entendimento”.

A vida está aí para ser vivida e não para ser entendida. O medo de sofrer causa ainda mais sofrimento. Mal entendidos, falta de diálogo, palavras não ditas, gestos mal interpretados. Tudo isso gera um turbilhão de sensações e conclusões que nos tornam cada vez mais fechados, preferindo a calmaria da solidão à turbulência da vida.

O ser humano, principalmente as mulheres, tem mania de ficar arquitetando as coisas, imaginando situações, criando ilusões, prevendo o futuro. Enquanto faz isso, esquece de viver. E esquece que “a vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos” (John Lennon).

Não se acostume com a solidão. Não se acostume com a falta de perspectiva. As tempestades nem sempre são bem-vindas. Mas, com certeza, uma chuva forte de vez em quando é boa para espantar a calmaria e fazer a gente se sentir vivo de novo.