Não há nada mais calmo do que a solidão. Nada novo; tudo previsível. O telefone não toca, a mensagem não chega, o encontro não é marcado. Não há espera, não há frio na barriga, não há ansiedade, não há medo. Os dias são iguais e as coisas acontecem sempre da mesma forma. E a gente vai vivendo, sem se dar conta de que está se acostumando com isso. Sim, a gente se acostuma, mas não deveria.
A gente se acostuma a não se aventurar, a não cair de bandeja, a evitar dar com a cara no poste. E, com isso, não percebemos que estamos perdendo não só a oportunidade de nos aventurarmos, mas, principalmente, a chance de sermos felizes. A vida só tem sabor se corremos riscos, nos aventuramos, cometemos erros e fazemos loucuras. Se nada disso for possível, é como se faltasse açúcar no doce. Tudo fica sem graça.
Sou mestre em querer entender as coisas. A frase que dita o rumo da minha vida vem de Clarice Lispector: “Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo. Quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação”. Mas estou aprendendo que orientação demais faz mal, dá ruga, causa preocupações desnecessárias, leva à loucura. Ultimamente tenho preferido outra frase dela. “Viver ultrapassa qualquer entendimento”.
A vida está aí para ser vivida e não para ser entendida. O medo de sofrer causa ainda mais sofrimento. Mal entendidos, falta de diálogo, palavras não ditas, gestos mal interpretados. Tudo isso gera um turbilhão de sensações e conclusões que nos tornam cada vez mais fechados, preferindo a calmaria da solidão à turbulência da vida.
O ser humano, principalmente as mulheres, tem mania de ficar arquitetando as coisas, imaginando situações, criando ilusões, prevendo o futuro. Enquanto faz isso, esquece de viver. E esquece que “a vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos” (John Lennon).
Não se acostume com a solidão. Não se acostume com a falta de perspectiva. As tempestades nem sempre são bem-vindas. Mas, com certeza, uma chuva forte de vez em quando é boa para espantar a calmaria e fazer a gente se sentir vivo de novo.
2 comentários:
Perfeito, Fabi!
O melhor post de todos até agora. De verdade! Já fiz minha escolha: prefiro a turbulência da vida. Ela é bem mais divertida!!!
Definitivamente prefiro a turbulencia da vida, concordo com a dri...nessas horas acabam acontecendo coisas que surpreendem a gente! Mas uma calmaria pra dar uma descansadinha de vez em quando tb faz bem, o bom e saber dosar:)
bjinhos
Postar um comentário