03/06/2012

Necessidades básicas

É difícil explicar porque temos a vida que muitos pediram a Deus e insistimos em reclamar dela. Sempre falta alguma coisa: um grande amor, um emprego novo, um salário melhor, uma casa mais espaçosa, uma viagem para a Europa, compras sem limites. Por um lado, o inconformismo nos leva a sonhar; e são os sonhos que nos movem e nos fazem lutar. Mas, por outro lado, é muito triste nos prendermos a coisas tão supérfluas enquanto uma grande parte dos brasileiros está lutando por água, uma coisa tão básica que passa totalmente despercebida aos nossos olhos e sentimentos.
Hoje, assisti a uma matéria no Globo Rural sobre a seca no sertão nordestino. Uma das cidades citadas na reportagem, na região de Irecê (BA), mostra o desespero da população para pegar o máximo de água possível quando o caminhão pipa chega à região. Água esta proveniente de um rio e que é distribuída suja e sem tratamento. A repórter acompanha o caso de uma menina de nove anos, que cuida de três irmãos, um deles um bebê de 10 meses. Ela sai de casa com um balde e as três crianças para buscar água. Volta com o balde na cabeça e o bebê no colo. E aquela água tem que ser suficiente para beber e cozinhar até que o caminhão volte a trazer mais alguns dias depois. Banho é luxo numa situação como aquela.
E esse é o nosso Brasil: um país cheio de contrastes. Enquanto muitos passam fome e sede no nordeste, alguns se divertem no sudeste gastando rios de dinheiro em besteiras, posando de poderosos em jatinhos e iates e esbanjando luxo e ostentação. Um Brasil de políticos corruptos que se esquecem do povo que carece de necessidades básicas para sobreviver enquanto enchem seus próprios bolsos com dinheiro dos impostos que nós trabalhamos para pagar. Segundo dados publicados na Veja da semana passada, somente na quarta-feira, 30 de maio, foi que nós brasileiros passamos a trabalhar para nós mesmos. Até então, desde janeiro, estamos trabalhando só para pagar imposto.

Um Brasil de gente como eu, como você que lê este texto, que temos uma vida sequer sonhada por aquele povo no nordeste, e vivemos reclamando em vez de agradecer. A matéria do Globo Rural fala do sonho das crianças que sofrem com a seca. E o sonho delas não tem nada a ver com o sonho de uma criança comum, que quer um brinquedo novo, um videogame, celular, computador ou um passeio incrível. O sonho dessas crianças é ter água encanada dentro de casa para não precisar mais carregar balde na cabeça.

E enquanto isso acontece no interior do Brasil, aqui estou na minha casa, sentada na minha cama, de pijama, às dez horas de um domingo típico de outono, com o computador no colo, escrevendo este texto, enquanto penso no que vou fazer hoje. Almoçar fora? Ir ao cinema? Ficar em casa assistindo filme? Fazer compras? Programar o passeio do feriado? São tantas coisas importantes para pensar e fazer durante o dia que até me esqueço de tomar água fresquinha e cristalina que vem do poço artesiano da chácara da minha família. Água esta que se estivesse disponível nesse momento àquele povo sofrido do nordeste seria mais motivo de alegria e festa do que qualquer programa que eu invente de fazer aqui em São Paulo.

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