Como era gostoso na adolescência sentir borboletas no estômago ao ver a pessoa amada. A gente se apaixonava perdidamente e frequentava a escola não pela matemática ou pelas regras de português que tínhamos que aprender, mas sim, porque lá estava o nosso príncipe, a pessoa por quem valia a pena viver.
Bastava observá-lo nos intervalos, caso fosse de outra classe, ou ficar desviando o olhar durante as aulas só para vê-lo na outra fileira ou no fundo da sala. Os finais de semana e os feriados demoravam uma eternidade para passar. Como era bom estudar!
Muitas vezes o amor era platônico. Estávamos na quarta série e gostávamos do bonitão da oitava. Ou então caíamos na besteira de nos apaixonar pelo mesmo garoto que nossa amiga ou então pelo “garanhão”, por quem todas as meninas da escola eram caidinhas.
Bons tempos eram aqueles. O frio na barriga, o vazio no estômago, a sensação maluca que dava só de olhar para ele. Naquela época antes do “ficar” existia o “conhecer”. Quando um garoto estava a fim de você, ele pedia para lhe conhecer primeiro. Vocês se apresentavam, trocavam três beijinhos no rosto e conversavam um pouco. Tudo na frente dos amigos. A partir daquele dia, seus dias passavam a ser bem melhores, porque você podia cumprimentar seu amor na escola. Se um dos dois gostasse, de preferência ele, aí sim vinha o pedido para ficar. Então, os amigos marcavam um encontro entre vocês, geralmente no escadão, atrás da escola ou numa casa abandonada. E você passava a andar nas nuvens.
Se ele não gostasse de você e lhe desse um fora, a dor era profunda. Você passava os dias chorando e se arrastando, pensava em trocar de escola e suas amigas tinham que lhe consolar. Se você o visse com outra então, era a morte. Depressão na certa.
E assim a gente vivia. E uma coisa era certa: se o garoto não lhe fizesse sentir borboletas no estômago, você não estava apaixonada.
Hoje em dia, a história é outra, tanto no mundo dos adultos quanto entre os adolescentes. Ninguém tem tempo para esperar as borboletas aparecerem no estômago. Ninguém tem tempo para paquerar. Basta um olhar, um “fui com a sua cara” e as pessoas já estão se beijando, muitas vezes sem sequer saber o nome umas das outras. Mas isso não importa, porque provavelmente vocês nunca mais vão se ver mesmo.
Não existe mais o “pedir em namoro”, isso é brega. As pessoas vão arrastando o “ficar”, levam para conhecer a família e pronto. Estão namorando. Se daqui a duas semanas não der mais certo, tudo bem, a gente termina. Os casamentos também estão ficando assim. Muitos casam porque já passou da hora, porque a família está em cima, porque querem dar uma festa maravilhosa, porque querem sair da casa dos pais, porque o cara é rico, porque querem um filho... Amor? O que é isso? Não, a gente não tem tempo para o amor. Amor dói, amor deixa a gente vulnerável, amar é para os fracos.
E assim a gente se arrasta, vivendo superficialmente e deixando de sentir borboletas no estômago. Quem ainda tem o privilégio de sentir isso, aproveite. Não há nada que nos faça sentir mais vivos, humanos e cheios de amor para dar do que aquele friozinho especial na barriga.
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