12/04/2011

Cobras venenosas

No final de semana, minha família e eu estávamos reunidos em nossa chácara quando fomos surpreendidos pela presença de uma cascavel que não havia sido convidada para o evento. A cobra estava escondida na entrada da chácara esperando para dar o bote. Ela só foi descoberta porque meu pai quase pisou em seu corpo esbelto. Quando todos se deram conta da intrusa começou uma discussão sobre o que fazer com ela. Algumas outras pessoas se aproximaram para ajudar na decisão.

Enquanto meu pai tentava a todo custo, com uma vara, impedir a cascavel de entrar na chácara, eu tirava os cachorros de perto; minha prima fotografava o animal; meu tio filmava; meu primo pedia para que colocássemos a cobra em uma caixa para ele levar para o Butantã; minha mãe ligava para o meu avô ir até o local para ajudar na discussão; um transeunte falava para jogarmos a cobra no mato e deixá-la partir; outro dizia que não podíamos fazer isso porque ela poderia picar alguma criança; e o vizinho, ah! o vizinho, esse só falava em matar a cascavel, e se gabava dizendo que já havia acabado com a raça de várias cobras.

Eis que chegam, para analisarem o caso, o meu avô e uma bióloga que estava a passeio em sua casa. Minha avó, minha prima e minha tia também estavam com eles. Minha mãe a essa altura já tinha buscado a caixa onde a cobra seria colocada. E eu já havia tentado ligar para a polícia para pedir orientação, e desistido. Aí a bióloga sugeriu que colocássemos a cobra em uma garrafa. Enquanto isso, meu pai continuava impedindo a intrusa de entrar na chácara. Só parava de arrastá-la quando ela ameaçava dar o bote.

Aquela muvuca em volta da cascavel permaneceu até que, num breve momento de distração do meu pai, o vizinho (aquele com instinto assassino de animais) tomou-lhe a vara e deu umas varadas na cabeça da cobra, matando a coitada. Neste momento, a bióloga começou a chorar, um cara vibrou a morte da cascavel, meu primo entrou na chácara enfurecido, com vontade de bater no homem, e o restante ficou olhando para a cena com cara de “ué”. Pronto, o caso da cobra estava solucionado. Simples assim.
Eu fiquei indignada com o que vi. Por que ninguém impediu aquele homem de fazer aquilo? Simplesmente porque todos nós fomos pegos de surpresa, embora todos soubessem que ele estava querendo matar a cascavel. Mas tomar a decisão assim, sem perguntar a opinião dos outros? Outra coisa, a cobra estava na calçada da chácara da minha família, tentando participar do nosso churrasco. Então, ela era nossa. Ninguém podia matá-la sem nossa permissão.

Esta história serve perfeitamente para ilustrar situações que nos deparamos constantemente. Quantas vezes tomamos cuidado para não pisarmos em local errado, com medo das cascáveis e, no final, elas estão do nosso lado e atacam quando menos esperamos?

Na história do final de semana, o verdadeiro veneno não vinha da cobra e, sim, do vizinho que chegou se fazendo de amigo, querendo ajudar. Quando menos se esperava, ele deu o bote, surpreendendo a todos.

Cuidado onde você pisa. Cuidado com o veneno camuflado em certas pessoas. Nem sempre a cobra venenosa é aquela que você acha que vai lhe picar. O bote pode vir de onde você menos espera, ou até espera, mas não acredita que possa acontecer.

Um comentário:

Rosangela disse...

É, cobras venenosas dão mesmo o que falar.
Quando são descobertas.rsrsrsrs