03/03/2011

Cinema sem legenda

Confesso que estava ansiosa para assistir ao filme "Bruna Surfistinha". Não li o livro dela, mas pelas histórias que ouvi a seu respeito e pelos comentários negativos de duas amigas que assistiram ao filme, minhas expectativas de decepção e revolta eram grandes. Mas me surpreendi com o que vi. Esperava ficar horrorizada com a história, enojada com as cenas de sexo e com vontade de vomitar ao ver aquela mulher dando para todo tipo de homem, principalmente os mais asquerosos possíveis. Saí do cinema pensativa.

Fiquei pensando na história de uma pobre menina de classe média que foi ignorada pelo pai, insultada pelo irmão, desprezada na escola e humilhada por um idiota. Fiquei estarrecida. O que as atitudes humanas são capazes de fazer com a cabeça de uma pessoa! Ninguém tem o direito de acabar com sonhos e com a vida de ninguém. E quantas meninas passam por situações como essa? Claro que nem isso que aconteceu com a adolescente Raquel, e nem nada, são motivos para uma pessoa se tornar vulnerável, cair na vida e sair dando para todo mundo. Mas quando se tem um psicológico fraco, uma mente perturbada, quando falta estrutura, principalmente familiar, qualquer coisa que aconteça fora do script pode levar um ser humano a cometer loucuras como as de Raquel, que passou da garota menos popular da escola para a prostituta mais famosa do Brasil.

Definitivamente o filme não me horrorizou. Fiquei muito mais chocada com a Sandy posando de devassa do que com a Débora Secco interpretando uma puta. Mas isso é assunto para um outro post. Hoje, eu gostaria de propor um brinde às produções cinematográficas brasileiras; uma salva de palmas ao cinema sem legenda.

Não sou especialista na área. Escrevo apenas o que sinto, percebo e leio sobre o mundinho a minha volta. Mas o cinema brasileiro nunca foi tão bom quanto agora. E os números comprovam isso. Em 2010, houve um aumento de 32% nas bilheterias. Isso representa 135 milhões de espectadores e uma renda de 1,3 bilhão de reais. "Tropa de Elite 2", "Chico Xavier" e "Nosso Lar" foram os filmes brasileiros mais vistos em 2010. Aliás, "Tropa de Elite 2" foi o filme mais visto da história do cinema brasileiro, batendo o recorde de "Dona Flor e Seus Dois Maridos", de 1976. Superou também, em quantidade de público, a superprodução "Avatar". É ou não é para se orgulhar das nossas produções?

Dos últimos cinco filmes que assisti, quatro eram brasileiros. Dei gargalhadas no "De pernas pro ar", com Ingrid Guimarães, e adoro o capitão Nascimento. Fui vê-los duas vezes na telona. E pensar que antigamente eu fazia cara de desprezo quando ia no cinema e tinham filmes brasileiros em cartaz. Agora, sou fã do cinema sem legenda. Espero que essa boa fase continue e evolua. Com os incentivos fiscais do governo, através de leis como a Audiovisual, pólos cinematográficos como o de Paulínia e investimentos privados, quem sabe nosso país não se torne um Brasilwood.

Bruna Surfistinha entra para a minha lista de filmes recomendados. Não pelas cenas picantes e, sim, pela história. A única coisa que me intrigou nesse filme foi encontrar uma sala de cinema lotada de adolescentes, em sua maioria meninas que, por pouco, não passam pela censura do filme, 16 anos. Mais incomodada ainda fiquei com a conversa de umas cinco delas que estavam sentadas nas poltronas atrás de mim. Antes de começar o filme, o assunto era sexo e sex shop. "O olinho tem cheiro de morango e é comestível". "Vamos falar de sex shop agora". "Você não vai querer sentir de novo aquela dor horrível de perder a virgindade!". "Eu tenho uma pomada ótima para isso".

Espero que quem ficou horrorizado com as cenas de sexo do filme, fique revoltado também com comentários como esses, vindo de meninas que mal conhecem a vida e já sabem muito mais sobre o assunto do que muita mulher feita. Muito provavelmente elas não estavam ali para se comoverem com a história de Raquel, mas sim para aprenderem com a vida de Bruna.

6 comentários:

Letícia Arcanjo disse...

Fabi,

Ótima crítica. Não pelo filme, mas pela realidade que sociedade em geral está passando.

Agora quero assitir o filme, mesmo que seja pela locadora depois que sair do cinema.

Parabéns pelo Blog.

Beijos

Ariane Bulgarelli disse...

Muito boa sua colocação em relação ao filme. Eu assisti e vou dizer por mim. Concordo que pela história do filme eu não esperava menos das cenas, porém eu fiquei realmente assustada pela censura ser 16 anos para um filme bastante picante onde envolve além de cenas de sexo, cenas de uma jovem drogada.
Achei a história da Bruna bem bacana desde que me contaram, e isso me despertou a atenção em assistir o filme, já que não havia lido o livro.
Sem dúvidas, o cinema brasileiro melhorou muito e como brasileira, tenho orgulho disso. Mas continuo achando que as pessoas que estiveram atrás desse longa, deveriam ter pensado mais em nossos jovens que cada dia mais pulam a fase que deveriam viver para viver a fase adulta.

Bjos.
Ariane

Anônimo disse...

Fabi, finalmente passei por aqui \o/

Não vi o filme ainda, mas lendo o livro tive a sensação de que a Bruna Surfistinha se faz muito de vítima para justificar os seus atos. Sei lá, melhor admitir a sua natureza. Mas posso estar errado, né?

Bjo!

Ricardo Regolão disse...

Eu achei o filme muito bom também, não gosto da Débora Secco mas acho que ela está bem no papel da vida dela, rsrs.
Acho que o cinema brasileiro sempre foi muito bom, salvo pela fase de pornochanchadas que entrou no final da década de 70 até meados de 90. Vale a pena sim ir ao cinema pra ver produções brasileiras, que só vão melhorar ainda mais com o aumento de audiência.

Agora confesso que é rídiculo um filme tão pesado ter uma censura de 16 anos, principalmente numa época que a juventude está tão avançada quando se fala de sexo e drogas. Realmente me assustei com os comentários das meninas que sentavam atrás de você, mas fazer o que?? O mundo evoluiu e as pessoas também, não se pode mais criar os filhos numa redoma de vidro.

Bjos bjos
Ricardo Regolão

Ariane Bulgarelli disse...

Fabiiii
vc está atrasada com seu post de hoje..rsrsrs

Bjos

Unknown disse...

Oi Fabiana,

Penso que estamos falando de uma vida, privada de alguns bases fundamentais na formação de um ser humano em conformidade com a fluência natural da vida.

Para se formar boas pessoas e por conseguinte bons amigos, cidadãos, políticos, empresários, jornalistas e etc., precisamos cada vez mais apostar nos valores familiares que forjam a personalidade e o caráter de todos nós.

Quando privados dessa adequada forja, desde a gravidez até, aproximadamente os 16 anos temos as Brunas surfistinhas, os Brunos goleiros e as Von Richtofen que temos vistos nos últimos anos.

Como já sou de uma geração mais antiga, como vc me disse ontem, talvez esteja atrasado mas, beijar, abraçar e corrigir os filhos a partir de valores familiares cristãos, na minha opinião é a solução.

Ocorre que, em muitos casos, nós pais estamos tercerizando a educação para as escolas, internet e Tv, confundindo educação com aquisição de conhecimentos.

Quiçá os que virem o filme pensem como vc, não nas cenas picantes e grosseiras mas, na essencia da formação da personalidade e caráter nas nossas famílias, que resultará em pessoas mais felizes e sabedores dos seus valores mais profundos. Teremos mais felicidade e menos fuga como a da Raquel/Bruna.