10/03/2011

Carnaval da reconstrução

Logo na entrada da cidade de São Luiz do Paraitinga eu e minhas amigas fomos surpreendidas pelo preço da Zona Azul: R$ 50,00. “Para deixar o carro na rua?”, perguntamos. “Sim, para deixar o carro na rua durante o dia todo, até as 6h de amanhã. Depois já passa a contar outra cor de selo”, respondeu recepcionista de foliões. “E se a gente não pagar?” “Multa de mais ou menos R$ 160,00 e o carro é guinchado”.


O que pareceu um absurdo no início acabou sendo substituído por um sentimento de justiça. São Luiz tem cerca de 10.500 habitantes. Só na abertura do Carnaval, o bloco Juca Teles levou para as ruas da cidade mais de 10 mil foliões. A maior parte era turista. Já que o carnaval é de rua e você não precisa pagar nada para participar, e ainda conta com equipe de segurança, policiais espalhados pela cidade, médicos de plantão e ambulância para socorrê-lo, de algum lugar tinha que sair o dinheiro para bancar a sua estadia e a limpeza.


Além dos gastos com a estrutura do evento, ainda tinha o principal: a cidade está em reconstrução. Depois das fortes chuvas no Reveillon de 2010, quando o rio Paraitinga transbordou e inundou a cidade, destruindo casas, locais públicos e, inclusive, a histórica igreja matriz, São Luiz tenta se reerguer. A festa mais famosa da cidade não aconteceu em 2010. Este ano, voltou um pouco modesta, com alterações do roteiro dos blocos, que não passaram pelo centro histórico como de costume, e bem menos foliões do que o habitual.


Mesmo assim, eu ainda não havia engolido por completo a história dos R$ 50,00 de Zona Azul. Mas um vendedor ambulante acabou com minha mesquinhez: “A gente achou que esse carnaval nem fosse existir. Mas graças a Deus estamos aí e obrigado pela presença de todos vocês. Vocês vão ver que no ano que vem esta igreja vai estar erguida de novo”. Depois dessa declaração passei a achar mais do que justo pagar a Zona Azul e o banheiro e gastar mais na água, na comida e na bebida.


Vendo a cidade de perto dá para entender o que aconteceu. O rio Paraitinga, que corta São Luiz, me pareceu grande demais, desproporcional ao tamanho da cidade. Além disso, ele estava cheio e a impressão que me passava era de que poderia transbordar com uma chuva um pouco mais forte. Muitas casas foram construídas as suas margens. As barreiras de contenção tentam amenizar o problema, mas ele continua ali. Vendo essa realidade me veio em mente a declaração de um especialista que vi na TV. “Não é o rio que está invadindo o quintal das casas. São as casas que estão invadindo o quintal dos rios”.


Torço para que São Luiz se recupere e que tragédias como a vivida em 2010 não voltem a acontecer. Torço para que a tradição de 30 anos do carnaval de rua da cidade permaneça alegrando a vida de milhares de foliões todos os anos. Torço para que o homem pare de desafiar a natureza. E, finalmente, torço para que os seres humanos aprendam com o povo de São Luiz a reconstruírem suas vidas, a começarem de novo.

2 comentários:

Letícia Arcanjo disse...

Nossa Fabi, é muito triste vera realidade da cidade e, mesmo assim, tentando alegrar turistas. Isso é muito positivo. Mas acredito que o homem nunca deixará de desafiar a natureza.

Parece bonito e aconchegante ter um rio quase na porta de casa. antigamente, era quase um privilégio ter um riacho pra pescar. Hoje em dia, as pessoas tem que ter em mente que esses lugares são vulneráveis. Sempre foram. Só que agora a mídia pode noticiar as diversas situações.

Seja em São Paulo, em Santa Catarina,em Pernambuco ou no Rio de Janeiro. Ainda veremos muitas desgraças acontecerem por conta da ingenuidade do ser humano.

Enfim... tomara que a cidade consiga reerguer não apenas a igreja que é tão importante, mas também as casas e comércios que mudaram o rumo da vida de muita gente.

Bjos

Dri disse...

Foi lindo ver a alegria e o colorido de volta a São Luis...