Nesta vida já me roubaram tempo, paciência, humor. Já me roubaram amores, amigos, sonhos. Mas nunca me roubaram coisas.
Na sexta-feira, roubaram meu celular durante o trabalho em uma feira, em São Paulo. Não fiquei chateada pelo valor financeiro do aparelho, mas sim pelo o que ele representava pra mim. Uma agenda de contatos que talvez não recupere por completo. Vídeos dos meus primos e de um amigo cantando. Músicas da minha dupla favorita (isso eu recupero). Fotos da minha cachorra e de seus seis irmãos quando eram filhotes.
Depois de uma hora no telefone consegui bloquear o chip e o aparelho. A pessoa que roubou não tem mais nada a fazer senão jogar o aparelho no lixo, principalmente depois de perceber que minhas coisas só prestam pra mim mesma. Não valem nada para mais ninguém.
Como se não bastasse o roubo, até chegar em casa ainda tive que enfrentar chuva, frio, fome, ônibus quebrado e horas de espera. Cheguei às onze da noite e ainda tinha que trabalhar no sábado. No dia seguinte, eis que me roubam o celular da empresa também. Senti-me uma idiota, incapaz de cuidar das suas próprias coisas.
Acordei hoje com a sensação de que a maré iria virar. Fui ao cinema com uma amiga assistir a um filme do Woody Allen. Estava muito ansiosa, porque além de achar muito chique e culto assistir a um filme do Woody Allen, ainda fui instigada pelo nome do filme: “Você vai encontrar o homem dos seus sonhos”. Saí do cinema sem entender o filme e sem a receita para encontrar o homem dos meus sonhos. Pela segunda vez em um final de semana me senti uma idiota. Desta vez por não ter cultura suficiente para aplaudir um Woody Allen.
Resolvi então gastar dinheiro no meu celular novo, mas o sistema da operadora não estava funcionando no estado de São Paulo inteiro, ou seja, só amanhã. Já que tudo deu errado, me entupi de comida e doce e voltei para casa dormir, antes que acontecesse mais alguma coisa.
Sinceramente, a revolta passou. Isso não é nenhuma tragédia. Pelo menos eu não estava no Japão durante o terremoto e o tsunami, não estou na Líbia no meio de uma guerra civil, tenho saúde, emprego, uma família maravilhosa e amigos que eu tanto amo.
Tirei uma lição deste fim de semana de cão. Às vezes ficamos tão “em-mesmados” que não conseguimos olhar para o lado. Não percebemos que existem pessoas ao nosso redor em situações infinitamente piores. O egocentrismo nos deixa cegos e nos faz achar que os nossos problemas são os maiores do mundo.
É preciso enxergar além do nosso próprio mundo. É preciso saber ouvir os outros para entender que nossos problemas não são nada perto dos problemas dos nossos vizinhos. Aliás, você conhece os seus vizinhos? Eu confesso que não conheço os meus.
Celulares roubados não são nada. Vida roubada é um problema.
Tempo perdido esperando um ônibus não é nada. A vida perdida por falta de tempo é um problema.
Filme mal compreendido não é nada. Não compreender a vida é um problema.
O meu problema não é nada. Não enxergar além do próprio umbigo é um problema.
3 comentários:
Privilégio, Fabi. Ter objetos para serem roubados, ponto de interrogação por filme não compreendido e coragem para expressar tudo isso com pitada de bom humor. E nada é tão ruim que não possa piorar...
"Vamos dando risada que a vida nos chama não dá pra chorar. E vamo que vamo".
Ótimo post. É difícil mesmo, enxergar o quanto muitos de nossos problemas são fúteis, porque afinal, sentimos e vivemos com a nossa carne, a nossa alma, e não a dos outros.
É sempre bom espairecer e direcionar pensamentos bons para quem precisa - e esperamos que não precisemos de verdade, um dia.
E olha, posso ajudar a recuperar as fotos dos filhinhos da Laika! Tenho algumas por aqui =)
Beijos
Alguém q infelizmente ñ me lembro quem é agora disse:
"Se jogássemos os nossos problemas fora em um monte e pudéssemos ver os dos outros. Nós pegaríamos os nossos de volta".
Vivendo e aprendendo!
Pena q aprendemos mais com as coisas ruins do q com as boas. Pena não, q bom q estamos sempre aprendendo. É para isto q estamos neste plano Divino. Bjs
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