02/03/2011

Você é um workaholic?

Fiquei chocada com a história de um colega de trabalho do meu irmão. Num dia aparentemente normal, o rapaz chegou à empresa fora de si. Não falava coisa com coisa, acusava todo mundo, teve uma conversa sem pé nem cabeça com o chefe e várias outras atitudes inesperadas. Parecia descontrolado. O chefe ligou para seu pai que, assustado, foi buscar o menino e levá-lo para o hospital. Resultado: o rapaz de 22 anos está internado em uma das melhores clínicas de reabilitação da América Latina. Tudo pago pela empresa. Diagnóstico: distúrbio mental.

Não podemos dizer com certeza que esta situação foi provocada somente pelo estresse do trabalho. Segundo o meu irmão, o rapaz já havia dado entrada em hospitais anteriormente por causa de sintomas parecidos. Mas ele acredita que a pressão e o excesso de trabalho contribuíram sim para esse desfecho, já que eles estavam, em dois, fazendo o trabalho de quatro pessoas, e trabalhando exaustivamente há dias seguidos. Os pais do rapaz chegaram até a visitar a empresa para conhecer o ambiente de trabalho, talvez na esperança de tentar entender o que provocou o desequilíbrio no filho.

Existe uma expressão em inglês, chamada workaholic, que define os viciados em trabalho. Tem gente que se vangloria de colocar no currículo e em seus perfis no Twitter, Facebook e Linkedyn que são workaholics. Outros não assumem que são, dando a desculpa de que trabalham demais porque precisam ganhar mais dinheiro ou porque a empresa exige. Não importa o motivo, quem não consegue se livrar do trabalho é um workaholic. Um título chique, merecido apenas por pessoas malucas.

Conheço um sem-número de malucos. Meu irmão, que já trabalhava mais horas que o necessário por dia, agora, com o afastamento do rapaz, trabalha por quatro. Esta semana chegou para o chefe dele e disse: "Eu não vou ficar louco também, vou?". Não tem mais horário para entrar e nem sair. Trabalha aos sábados, domingos e não será novidade se tiver que trabalhar no Carnaval também. Pergunta se ele reclama?! Claro que não! Recebeu de horas extras este mês mais do que o salário normal, e está super feliz. Como não tem tempo para gastar a grana, vai ficar rico em breve. Só espero que ele não tenha que usar o dinheiro para comprar remédios e pagar tratamentos.

Tenho um colega na empresa que só pensa em trabalho também. Segundo ele, "dormir é para os fracos". Chegou a me incentivar a fazer uma abaixo-assinado para um dia de 32 horas. Pensa em dez coisas ao mesmo tempo e perde-se nos pensamentos. Um belo dia, ele virou a noite trabalhando em casa e foi dormir às 6h. Chegou na empresa meio dia. Ninguém viu que ele estava trabalhando em casa. Só viram que já eram quase meio dia e ele ainda não havia aparecido na empresa. Agora está em casa de molho, com conjuntivite. E quem disse que isso o impediu de trabalhar? Não sai do Twitter e está terminando alguns trabalhos urgentes. Afinal, uma conjuntivite não pode ser capaz de parar uma pessoa. Consegue enxergar a tela do computador, mas está cego para o que realmente importa: sua saúde.

Tenho uma amiga que é professora e tem dois empregos. Segundo ela, dar aulas em apenas uma escola não é suficiente para se manter e ainda guardar dinheiro. Como sobram horas em seu dia, arrumou mais um emprego. No início era apenas para ganhar mais. "Não me considero uma viciada", disse. Agora não consegue mais se livrar do trabalho. Às terças e quintas-feiras chega a dar 14 horas de aula, suportando o cansaço físico e mental por ter que lidar com crianças e adolescentes de todas as "espécies". Este ano, ainda veio com uma novidade: pós-graduação aos sábados, uma exigência do trabalho. Aos domingos, prepara aulas e corrige provas. Mas ainda bem que ela tem as noites de sexta e sábado livres. Pergunta se ela tem pique para sair com as amigas? Raramente.

Refletindo sobre este assunto chego à conclusão de que também sou uma workaholic. E não me sinto feliz por isso. Trabalho até mais tarde e levo coisas para terminar em casa. Sou viciada em redes sociais (meus perfis e os da empresa). Acabei de comprar um netbook para levar para onde eu for; assim eu não perco tempo. Sou movida a café durante o dia e à internet à noite. Não como direito. Durmo menos do que deveria e vivo com olheiras. Não desligo um minuto. Mesmo assim, acho que estou no nível 1 da doença, pois ainda consigo reservar um tempo para me divertir. Consigo pegar férias e não lembrar sequer do nome da empresa onde trabalho. Consigo manter meus compromissos pessoais, mesmo quando o dever me chama. Não troco meu lazer pelo trabalho. Mas confesso que preciso pisar no freio e descer ao nível zero da doença, antes que seja promovida.

O que fazem as pessoas trabalharem tanto? Desejo de crescimento e realização profissional? Mais dinheiro no bolso? Falta do que fazer nas horas vagas? Carência afetiva? Vida pessoal e sentimental frustrada? Não importa. Não é trabalhando em excesso que vamos esquecer dos problemas que nos aguardam lá fora.

Não seja um workaholic. Cuidado com esta doença. Seus sintomas são estresse, queda de cabelo, olheiras, depressão, impotência sexual, mau humor, insônia, dores no estômago, pressão alta... Enquanto está nesta fase, o tratamento é prazeroso e não dói. Doses de noites bem dormidas, passeio com a família, happy hours com os amigos, férias de verdade (não vale vender alguns dias), leitura de bons livros, música para os ouvidos, lazer em geral, de preferência acompanhado por grandes doses de gargalhadas.

No estágio mais grave, essa "doença" pode lhe levar à loucura. Aí, meu amigo, o tratamento é um só: férias em uma clínica de reabilitação até você cair na real e perceber que todo o seu esforço em ganhar reconhecimento e mais dinheiro foi em vão. O desequilíbrio acabou com a sua saúde física, mental e emocional. É isso que você sonhou para sua vida? Atenção: workaholics podem terminar suas vidas sozinhos e infelizes.

8 comentários:

Natália Torres disse...

A vida é feita de equilibrio. Devemos pensar no trabalho, no dinheiro, no estudo e no futuro. Por outro lado a diversão, estar apaixonado, sair com as amigas, passar umas horas vagas sem pensar em nada, dormir, comer, entre muitas outras coisas precisam e devem ser feitas. Se um pé da mesa quebra os outros pés não se mantém em equilibrio, é o que acontece com a nossa vida. Trabalhe com prazer, mas não esqueça que a diversão fora do trabalho também é fundamental.

Arrasou Fabi! Tomara que as pessoas tomem consciência disso.

Beijos :)

SILVANA GALANI disse...

TIVE ESTE MESMO DISTÚRBIO TRABALHANDO COMO LOUCA...CHEGUEI AO HOSPITAL ACHANDO QUE IA MORRER
E ENTÃO VEIO O DIAGNÓSTICO:
"SÍNDROME DE BURNOUT"
MEU CORPO CHEGOU À COMBUSTÃO....
HOJE ESTOU VIVENDO BEM GRAÇAS AOS
REMÉDIOS... AGORA PERGUNTO???
SERÁ QUE VALE A PENA TRABALHAR TANTO ???? NÃO SEI AINDA ESTOU PENSANDO E ENQUANTO VOU PENSANDO NÃO PARO DE TRABALHAR. BEIJUSSS
SIL GALANI

Ricardo Regolão disse...

Respondendo sua pergunta do porque as pessoas se tornam workaholic, dinheiro, poder, reconhecimento. Somente por isso. Nós vivemos num mundo mesquinho e materialista, não aceitamos que os outros podem ter mais que a gente e queremos mais também. O ser humano é insaciável.

bjos
Ricardo (amigo da Ariane)

Anônimo disse...

Fabi, adorei o texto. Adorei a mudança de linha de pensamento. Nas últimas postagens vc vinha falando sobre relacionametos e sentimentos e agora nos presenteou com um texto sério e preocupamente.
Infelizmente esse é o mundo no qual vivemos. As pessoas não priorizam o que de fato tem valor e focam seus dias em trabalho, trabalho e trabalho. Quando se dão conta, pode ser tarde.
Eu posso dizer que consigo dividir bem meu tempo, mesmo durante o dia consigo fazer uma ligação ou escrever para um amigo, acessar o facebook ou o blog da Fabi..rs.. este momento de entretenimento é essencial para termos dias menos maçantes!

Excelente.

Bjos.
Ariane

Grupo Astra disse...

Outro dia eu li um texto e uma parte me chamou a atenção:
"Imagine a vida como um jogo, no qual você faz malabarismo com cinco bolas...Essas bolas são: o trabalho, a família, a saúde, os amigos e o espírito.
O trabalho é a única bola de borracha. Se cair, bate no chão e pula para cima. Mas, as quatro outras são de vidro. Se caírem no chão, quebrarão e ficarão permanentemente danificadas."
Acho muito importante administrar as horas do dia e organizar as tarefas da semana, assim, conseguimos encontrar tempo para o trabalho, lazer e descanso.

Bjinhos,
Juliana.

Unknown disse...

Oi Fabi...

Adoro seus textos, são lições de vida, fatos do dia a dia, são bem construtivos.
O que me deixa mais feliz é saber, que apesar do mundo estar como está, existem pessoas que fazem dele um lugar melhor, procurando semear o bem de alguma forma.


Hj vc me fez lembrar de algo que vez li certo dia "Os homens perdem a saude a juntar dinheiro e depois perdem o dinheiro a recuperar a saude, por pensarem ansiosamente no futuro esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro.
Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se nunca tivessem vivido."(Dalai Lama)


Parabéns pelo blog

Letícia Arcanjo disse...

Sempre penso na qualidade. Quando não estou bem, o meu trabalho não sai. Ou sai uma porcaria.

Eu sou agitada por natureza, mas ultimamente estou um pouco desgastada. Minha vida mudou muito nos último anos e ainda estou me acostumando.

Embora eu faça várias coisas ao mesmo tempo, consigo cuidar de mim e dar risadas.

Se algum dia eu me perder de tanto trabalhar vai ser para conquistar algo. Tem que valer a pena para alguma coisa.

Como todos já disseram, as pessoas se tornam workaholic por ambição, mas tudo na vida tem um limite. Um limite que cabe a cada um saber encontrar.

Beijos :D

Dri disse...

Depois desse texto, é melhor eu assumir. Eu sou workaholic. E não sinto orgulho disso. A vida fica muito pálida quando só vivemos para trabalhar. O lado colorido da vida passa sempre para o segundo plano, caso sobre tempo...Quer sentido mais chato para a vida?