25/04/2012

Estrela solitária

Não é fácil estar sozinho. Mais difícil ainda é ter que assumir os sucessivos fracassos nas relações amorosas. Entra ano e sai ano e tudo continua do mesmo jeito. Promessas são feitas, cumpridas, quebradas, e nada acontece. Pessoas vêm e vão sem explicação. Mudam-se as regras, o jeito de agir, a ordem das coisas, o corte de cabelo, o estilo preferido, diminui-se a lista de exigências, e nada.

Começar de novo uma, duas, três, dez vezes é mais do que normal. É a única regra. Vai e tenta, errando ou não uma coisa é certa: tudo vai ter que ser recomeçado, mais cedo ou mais tarde. Mas talvez isso não seja o pior. Existe uma tragédia que pode ser ainda maior do que simplesmente assumir os fracassos e começar de novo: a piedade das pessoas. E para virar catástrofe basta tentarem ajudar, como se a pessoa não fosse capaz de conseguir sozinha. Aí vira uma mistura de constrangimento com piedade de si mesmo, assinando de vez o atestado de incapacidade sentimental e dependência alheia. E quando nem assim a coisa funciona é porque não tem mais jeito. A sentença foi dada. E insistir só faz prolongar o sofrimento.

Não deve ser tão ruim assim viver sozinho, mesmo contra a vontade. Se o universo conspira para que isso aconteça, não adianta lutar contra. A força do destino é muito maior do que qualquer tentativa de se aproximar dois corações. E se o destino quis assim, o melhor que se tem a fazer é mudar o rumo das conversas, pensamentos e vontades. Que assim seja!

18/04/2012

Sem naufrágios


Eu tinha 14 anos quando assisti pela primeira vez ao filme Titanic, no cinema. Lembro-me de ter enfrentado quatro horas de fila para conferir na telona a história de amor de Jack e Rose e a tragédia do naufrágio do navio mais imponente que o mundo já havia visto. Chorei do princípio ao fim do filme, e quando saí da sala de cinema chegava a soluçar.

Essa experiência foi em 1998, mas ainda guardo na memória a emoção de ver os músicos tocando incessantemente seus violinos enquanto todos tentavam salvar suas vidas, prestes a naufragarem com a carcaça do gigante de aço.

Depois disso, devo ter visto esse filme umas oito vezes. Todas elas em fitas VHS, duas por sinal, já que o filme era longo. Depois de assistir, enquanto enxugava as lágrimas, rebobinava as fitas para então devolver à locadora de vídeo.

Em 2012, o naufrágio do Titanic completou 100 anos, e o filme ganhou uma roupagem mais moderna. Agora é possível conferir toda a história em 3D. O final não é diferente, pois nem com os óculos que permitem enxergar em três dimensões, conseguiram avistar o iceberg a tempo. Porém a emoção e os impactos do filme nos espectadores devem ser ainda maiores em 3D. Além disso, é a grande oportunidade para que a meninada de hoje possa assistir no cinema ao filme que foi febre entre os, ou melhor, as adolescentes da minha época.

Em 2012, também completam 14 anos que eu assisti Titanic pela primeira vez. E quanta coisa mudou de lá pra cá! A começar pela tecnologia, que transforma em 3D o mesmo filme que era visto em VHS. A sala de cinema do shopping da minha cidade virou uma loja de departamento. E a pista de patinação no gelo, onde fiquei a maior parte das quatro horas esperando pelo horário do filme, já não existe mais há um bom tempo. Dez reais não dão mais para pagar o transporte, o cinema e uma casquinha de sorvete. Os amigos que me acompanharam ao cinema também não são mais os mesmos que me acompanham hoje em dia, assim como as roupas que eu costumo vestir já não são mais do mesmo estilo. Tudo mudou muito rápido, e muita coisa se tornou obsoleta. Mas a lembrança. Ah! A lembrança. Essa permanece intacta, como se tudo tivesse acontecido ontem.

O mundo pode evoluir, a tecnologia pode invadir nossas vidas, podemos nos adaptar a novos métodos e a novas máquinas, mas o que guardamos na memória, os detalhes dos velhos tempos, isso ninguém rouba de nós. Lembrar-nos de momentos passados é reviver cada sensação, não deixando que as lembranças naufraguem em nossas mentes.

Nestes 100 anos do naufrágio do Titanic, vamos comemorar as lembranças que não naufragam. São elas que nos mostram como os detalhes bobos de hoje são os que vão nos provocar um leve sorriso de nostalgia amanhã, nos fazendo pensar: “Bons tempos aqueles”.

17/04/2012

A arte de não fazer nada

Um designer brasileiro chamado Marcelo Bohrer criou o Clube do Nadismo, com o objetivo de reunir pessoas em praças e locais públicos para simplesmente não fazerem nada durante um determinado tempo. Que ideia incrível!

Todos nós precisamos de um tempo para não fazermos nada. E esse nada é nada mesmo. Esquece internet, TV, livro, música. O negócio é ficar parado pensando em... nada, simplesmente sentindo sua própria respiração e seu coração batendo. Impossível? Você não sabe o que está perdendo.

Adoro ficar sem fazer nada. Por isso, odeio assumir compromissos no meu tempo livre. Meu único compromisso formal é com o meu trabalho. Quando encerro o expediente, o que mais me agrada é saber que não tenho nada pra fazer. E por isso mesmo posso fazer o que eu quero. Posso ir no shopping ou passar no supermercado, ou então ir pra casa e assistir TV ou um filme, ou ficar de bobeira na internet, posso querer ler um livro ou ligar para uma amiga. Ou então, posso ficar sem fazer nada, deitada na cama, apenas descansando.

Gosto de gastar meu tempo livre com aquilo que realmente me faz bem e feliz. Agenda cheia de compromissos somente a do trabalho. Fora isso, estou livre de domingo a domingo para fazer o que bem entender. Mas pensando melhor, estou a fim de assumir um compromisso sim. Vou entrar para o Clube do Nadismo e oficializar esse meu gosto pelos momentos ociosos.

08/04/2012

Apenas respire

E aí que falam pra você que é necessário seguir em frente. A tempestade passou e um novo dia ensolarado se abriu pra você. Mas você não encontra o livro de receitas que te explique passo a passo como continuar vivendo. Não há nada parecido com “Superando e seguindo em frente”. Não é tão fácil assim virar a página. Como esquecer o turbilhão que invadiu sua vida? Para piorar, você não controla os seus pensamentos, e toda vez que se lembra a dor volta, como se tudo tivesse acontecendo de novo. O que dificulta ainda mais é que você não quer ter que continuar, e prefere ficar na cama, revivendo a dor, se acabando de chorar e tentando encontrar respostas que não existem.

“E se eu tivesse agido assim...”; “E se eu não tivesse dito aquelas palavras...”; “E se eu tivesse chegado a tempo...”. Sua vida é invadida por uma série de possibilidades que poderiam ter salvo você dessa sensação horrível que lhe apetece agora.

Continuar parece impossível. Livrar-se da dor e sorrir novamente é um martírio. Você não quer falar sobre o assunto, você não quer falar sobre nada. Prefere passar horas parado olhando para o nada, com os pensamentos longe de qualquer tentativa de compreensão alheia.

Você não quer a piedade das pessoas, você não quer os conselhos, muito menos as injeções de ânimo. E menos ainda, você não quer pessoas se intrometendo em sua vida, principalmente as que já não eram bem-vindas antes de tudo acontecer.

Tudo o que você precisa é de tempo. Tempo para você, para se recompor, para começar a tentar voltar a viver novamente, talvez do mesmo jeito, talvez completamente diferente. Mas por enquanto não, por enquanto você se dá o direito de não precisar sorrir, de não precisar se arrumar, de não precisar entrar em cena com o seu personagem mais conhecido pelo público.

A perda foi grande pra você e a sua dor precisa ser respeitada. E ninguém tem o direito de invadi-la e dizer quando ela tem que acabar, quando ela deve ser enxotada de dentro de você. E não deixe que tentem fazer isso. Esgotar todo o sofrimento é um direito seu. Não se preocupe com o tempo. Uma hora vai passar. Tem que passar. Enquanto isso, mantenha-se fechada para balanço pelo período que for necessário. Uma hora você vai entender porque precisa continuar vivendo, embora nesse momento o que você mais quer é parar de respirar. Mas não pare! Nesse momento, a única coisa que você precisa é continuar respirando, mais nada!

04/04/2012

A força do destino

Acabo de ler o livro “Um homem de sorte”, um dos mais recentes títulos do escritor americano Nicholas Sparks, que consegue a façanha de lançar um best-seller atrás do outro. O romance fala da força do destino. Um fuzileiro encontra uma foto de uma moça enquanto lutava no Iraque e, depois de uma tentativa frustrada de encontrar o dono, acaba ficando com a fotografia, que acabou se transformando em um verdadeiro amuleto da sorte para ele. Ao voltar para casa, nos Estados Unidos, por insistência de um amigo, acaba atravessando o país a pé para encontrar a moça da foto. A história toda gira em torno de Logan Thibault, o fuzileiro, e seu cachorro Zeus, Beth, a moça da foto, Clayton, o ex-marido da moça, e Ben, o filho deles.

Além da forma maravilhosa como Nicholas conta toda a história, sendo cada capítulo narrado na visão de um dos três personagens principais, com as peculiaridades de cada um, como jeito de agir, pensar e falar, o que mais chama a atenção nesse enredo é o tema: destino.

Será mesmo que esse negócio de destino existe? Tudo está realmente escrito? Eu sempre ouço e digo que o que tiver que ser será. E, assim, a gente acha que consegue se desprender do assunto e deixar que o tempo, a vida, Deus ou o destino se encarreguem de colocar as coisas nos eixos. Em certos momentos é difícil acreditar que isso possa acontecer, mas se pararmos para pensar, quantas situações em nossas vidas aconteceram porque tinham que acontecer? Se analisarmos o desenrolar de cada caso, quantas vezes chegamos à conclusão de que se isso ou aquilo tivesse acontecido, ou se tivéssemos agido assim, ou chegado mais cedo, ou então não comparecido, poderia ter sido tudo diferente? E o que fez com que tudo fosse da forma que foi?

Cada um tem o direito de acreditar no que quiser. Se foi Deus, o destino, a sorte, uma simples coincidência ou uma escolha, não interessa. O que realmente importa é que temos que acreditar em algo e que temos que perseguir nossos sonhos e ouvir nosso coração e a nossa intuição. Para quem sabe o que busca não há pedra no caminho que o impeça de seguir em frente. E para quem não sabe exatamente o que quer ou procura, mas sente que tem que continuar, como é o caso de Thibault, então o faça. Lutar não significa vencer. Lutar significa que você está vivo e que está em busca de algo melhor. Pode até perder, mas não desiste. Thibault encontrou a moça da foto que guardara por cinco anos. Mas e agora?