02/11/2011

"Doença Ruim". É hora de encarar!


O Lula e o Gianecchini estão com câncer. O irmão de um amigo meu está com câncer. Uma colega de trabalho morreu de câncer. Uma professora do Ensino Médio e o meu vizinho tiveram câncer. Mais perto de mim, uma prima teve câncer e volta e meia é assombrada pelos fantasmas dessa doença, que insiste em mostrar que não é fácil de ser derrubada. São tantos casos, cada vez mais comuns, cada vez mais perto de nós, que tenho a sensação de que um dia, inevitavelmente, todos terão que passar por essa provação. Exagero da minha parte? Espero que sim.

Meses atrás tive o privilégio de entrevistar o Dr. Ademar Lopes, cirurgião-oncologista em São Paulo, para uma matéria sobre essa doença para uma publicação da empresa onde trabalho. Sai do consultório deste especialista, que tem mais de oito mil cirurgias no currículo, com uma frase dele na cabeça. “O câncer é uma doença comum, perfeitamente curável e sem mutilações”. Simples assim. Quem dera doutor! Quem dera se fosse simples assim.

Segundo estimativa do INCA (Instituto Nacional de Câncer) são esperados 489.270 novos casos de câncer no Brasil em 2011. Segundo o Dr. Ademar, 90% dos casos de câncer são perfeitamente curáveis, mas no Brasil cura-se hoje em dia menos de 60%. Dá para imaginar por que? Eu tenho pelo menos três suposições, para não dizer respostas:

1 – Temos medo de doença. Só de pensar em ir ao médico e descobrir alguma coisa, já entramos em pânico. Desta forma, evitamos consultas e exames que podem nos ajudar a detectar precocemente qualquer doença, principalmente um câncer. Você sabia que um câncer de intestino leva de 10 a 15 anos para se desenvolver, e que uma colonoscopia pode eliminar precocemente o pólipo (espécie de verruga) que causa este tipo de câncer?

2 – Médicos despreparados e desumanos. Muitos médicos nem olham para a cara do paciente durante uma consulta. Muitos medicam sem diagnóstico preciso, não pedem exames, não tocam nos pacientes. Sem falar nos planos de saúde que evitam ao máximo a realização de exames. Assim, fica difícil diagnosticar uma doença tão grave antes que ela evolua. Afinal, não dá para tratar um câncer no estômago com omeprazol na veia todas as vezes que a pessoa se queixar de dor.

3 – Caos na saúde pública. Com um sistema público de saúde como o brasileiro só com muita fé em Deus para não morrer na fila de espera. Pelo menos 58 mil pacientes de câncer ficaram sem fazer serviços de radioterapia e outros 80 mil deixaram de fazer cirurgias de câncer no país no ano passado, segundo dados do TCU (Tribunal de Contas da União), publicados pela Folha de São Paulo.

Antigamente, não se falava em câncer. A pessoa estava com ou morria de “doença ruim”. Hoje, tudo está mais evoluído. E graças à quantidade de informações que temos disponíveis a doença deveria deixar de ser um tabu. Deveria, mas o câncer ainda carrega consigo o estigma de que é sinônimo de dor, sofrimento e morte. Tanto é que choca saber que o Lula está com câncer. Choca ver o Reynaldo Gianecchini careca na televisão. Choca ainda mais descobrir uma caso perto da gente. Mas o que me choca realmente é saber que existem milhares de brasileiros na fila do SUS aguardando consultas, exames, remédios e tratamento como se estivessem no corredor da morte à espera de um milagre.

Casos como o de Lula, Gianecchini, Dilma, Ana Maria Braga, Hebe Camargo, José Alencar e todos os outros casos de famosos que vão parar na mídia servem para abrir os nossos olhos para essa doença. Esses casos vêm para nos mostrar que o câncer não escolhe cor, sexo, religião, muito menos classe social. A diferença é que existem aqueles que podem pagar por um tratamento decente e existem aqueles que dependem do governo para continuarem vivendo.

Termino este texto com duas frases que me marcaram muito. Uma é do Dr. Ademar Lopes. “O câncer é uma doença de evolução. O câncer não dói. Eu gostaria que o câncer doesse igual dor de dente. Mas ele não dói”. A segunda frase vem de um dos pacientes mais famosos do Dr. Ademar, o ex-vice-presidente do Brasil, José Alencar. “De vez em quando me acontece um certo complexo de culpa. Porque eu sou vice-presidente da República e as pessoas não têm, de um modo geral, esse tratamento que eu tenho tido. Será que nós não podemos fazer isso para todo mundo, meu Deus?” (entrevista ao programa Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim, em 2010).

12/10/2011

Pogobol

Não tive uma infância cheia de mimos, regalias e presentes. Pelo contrário; minha infância e a do meu irmão foram bem humildes. Não tínhamos os brinquedos da moda, muito menos ganhávamos tudo o que queríamos. Quando meu pai podia comprar alguma coisa era sempre uma versão mais simples ou um brinquedo pirateado mesmo, trazido pelo meu avô diretamente do Paraguai. Quando ele dizia que viajava para o país vizinho de Cometa, eu ficava imaginando como deveria ser viajar pendurado no rabo de um cometa.

Mas foi assim que tive uma Barbie, do Paraguai, mas era uma Barbie, e cigana. Lembro que ela tinha o cabelo muito ruim e eu resolvi cortar para ver se ele crescia mais bonito. Foi uma choradeira e um arrependimento gigantes quando descobri que ele não cresceria.

Naquela época, início dos anos 90, o Natal era esperado durante o ano todo pelas então cinco crianças existentes na família. A gente dormia na sala e acordava no dia seguinte com os presentes que o Papai Noel havia trazido. Uma vez, eu acordei no meio da noite, bem na hora em que meu tio colocava os presentes atrás da cortina. Foi então que descobri que o Papai Noel não existia e contei para os outros.

Também tinha amigo secreto na família e era uma expectativa só. Uma vez ganhei da minha avó uma mochila azul para ir na escola, já que eu iria entrar na primeira série no ano seguinte. Fiz um escândalo dizendo que não queria aquela porcaria, que acabou durando quatro anos e só foi aposentada porque a alça arrebentou.

Na rua onde eu morava tinham muitas crianças da nossa idade (entre 6 e 10 anos). A diversão era garantida com jogos de rua, como Queimada, Amarelinha, Bandeirinha, Pega-pega, Esconde-esconde, Elástico, Taco e muitas outras atividades. Foi numa dessas brincadeiras que meu irmão quebrou a clavícula. E em outra delas eu me escondi na casinha do cachorro da vizinha e acabei passando a noite matando pulga em cima do beliche onde eu dormia.

De vez em quando organizávamos excursões para o parquinho que ficava do outro lado do rio. Era uma aventura pular o córrego para chegar até o local. Uma vez minha prima caiu no esgoto e seu chinelo foi levado pela água. Todo mundo saiu correndo pela rua para chegar lá na frente, na ponte, antes do chinelo e resgatá-lo. Ficamos deitados em cima da ponte com uma varinha esperando o chinelo passar para pegá-lo. E aí se a gente não pegasse. O coro comia em casa com minha avó e minha mãe. Aliás, tenho a impressão de que eu apanhava todos os dias. E merecia, porque só aprontava.

No dia seguinte ao Dia das Crianças ou Natal era uma festa de novos brinquedos na rua. Certo dia, um amiguinho apareceu com uma bicicleta de 18 marchas, a última moda na época. E aí eu e meu irmão também queríamos uma. Como nosso pai não podia comprar, tratou de arrumar uma bicicleta usada pra gente. Ela era pequena, amarela e branca, feia que dava dó, mas nos levava para os mesmos lugares que a bonitona de 18 marchas.

Mas aí veio uma menina com uma caixa registradora pra gente brincar de supermercado, e a bicicleta foi deixada de lado. E não era só isso. Tinha também o Jogo da Vida, Banco Imobiliário, Pula Pirata, Pesca Peixe, patins de quatro rodas (duas na frente e duas atrás, com uma presilha para prender no tênis) e muitas outras novidades que faziam a alegria da vizinhança, porque no final das contas todo mundo se divertia com os brinquedos de todo mundo.

Foi numa dessas datas em que se ganha presentes da moda que um vizinho ganhou um pogobol, o brinquedo que mais marcou a minha infância. Era uma bola laranja, cortada ao meio por um anel amarelo. Parecia o planeta Saturno. A gente tinha que se equilibrar para subir no brinquedo e ficava com a meia bola laranja entre os pés. Daí era só sair pulando pela rua, quintal ou qualquer outro lugar. Formava-se fila para pular no pogobol do vizinho. Num dia, eu resolvi pular descalça. Brinquei tanto que as laterais dos meus pés ficaram cheias de bolhas. Mas isso não era problema. No dia seguinte, era só enfiar o tênis chinezinho nos pés, botar a mochila azul nas costas e ir para a escola, na expectativa de voltar logo pra casa para poder brincar na rua até as oito e meia da noite, quando minha mãe começava a gritar meu nome e do meu irmão. E aí da gente se não aparecesse. Íamos dormir com a bunda quente, como ela dizia.

09/10/2011

Tem alguma coisa errada com o amor

O amor andou mudado nos últimos tempos. Não é mais perfeito, está cheio de defeitos. E como ninguém aceita ele assim, o amor andou sumido. E agora todo mundo está reclamando a falta dele.

O problema é o que o amor nunca vem só. Tem amor que vem com brinde, tem amor que vem com vício, tem amor que vem sem dinheiro no bolso. Tem amor que é baixo demais, ou magro demais ou gordinho demais. Tem amor com cavanhaque, com mau hálito, com cabelo feio ou unhas muito vermelhas. Tem amor que não sabe falar direito. Tem amor muito tímido ou extrovertido demais para o seu gosto. Tem amor que não tem diploma e tem amor que não sabe se vestir. E esses amores não servem pra você. Eles não são como você sonhou, não passam nem perto de tudo o que você considera fundamental num amor.

Ninguém está disposto a aceitar os defeitos e remendos do amor. Ninguém está disposto a esperar o amor preencher o vazio que todos têm dentro do peito. Ninguém está disposto a dar uma chance para o amor. Afinal, ninguém tem tempo. O ideal é que o amor viesse pronto, que nem comida de micro-ondas. Basta esquentar e está pronto para saborear.

E assim você segue a sua incansável luta em busca do amor. E quanto mais o tempo passa, mais você exige dele, mais distante ele fica e mais solidão você sente. E aí o que você faz? Põe a culpa no amor e diz que hoje em dia ninguém quer nada com nada. É mais fácil dizer isso do que correr atrás do amor, deixar ele tomar conta de você, se entregar de verdade. Mas não dá. Você não pode se deixar levar por um sentimento. Você tem as rédeas de sua vida e a controla com mãos de ferro. Quem é o amor para entrar em sua vida, bagunçar tudo e dominar você? Se dizem que o amor é o que move o mundo, não seja ingênuo de achar que você vai conseguir controlá-lo. Em vez de lutar contra o amor, junte-se a ele. Todos nós precisamos vencer essa batalha contra a solidão e a necessidade de ter alguém do lado.

02/10/2011

O amor não tem regras

“Não transe no primeiro encontro que o cara some”. “Não demonstre que está a fim, não se declare que ele cai fora”. “Seja difícil, homem gosta de mulher assim”. “Se você tivesse demonstrado que estava a fim, ele teria vindo atrás”. “Quando o cara está a fim, ele liga”. “Não fique no pé, homem não gosta de mulher pegajosa”. É tanto conselho que até confunde a gente. Se você fez e não deu certo, não deveria ter feito. Se não fez e não deu certo, é porque deveria ter feito. É engraçado como tentamos estabelecer regras que ditam como devemos tentar começar e manter um relacionamento.

A impressão que dá é que temos que seguir uma cartilha de coisas a serem seguidas na hora de se conquistar alguém, quando na verdade não existem regras, não existem fórmulas perfeitas. Quer comprovar? Pergunte para casais como eles se conheceram, peça para contarem suas histórias. A maioria contará situações totalmente improváveis que acabaram dando certo e colocaram um na vida do outro.

Uma pessoa me falou. “Quer ser feliz, não crie expectativas”. E é exatamente por criarmos expectativas que caímos da escada e temos que começar a subir de novo, desta vez mais devagar. Não é porque falamos ou fizemos algo ou deixamos de falar ou fazer que a história vai ou não dar certo. Elas dão errado quase sempre porque criamos expectativas e nos precipitamos. Conhecemos a pessoa e já nos vemos namorando, casando e tendo filhos. E jogamos essa responsabilidade no colo dela como se ela fosse capaz de resolver os nossos problemas, curar nossa solidão e nos prometer amor eterno. Que ilusão!

As coisas não funcionam desse jeito. O amor é imprevisível e acontece quando a gente menos espera, com a pessoa que não sonhamos e de um jeito que não planejamos. Confunde a nossa mente, nos faz acreditar que está tudo errado, fora do esperado, mas nos abre o caminho para o novo e fascinante mundo que está além dos nossos umbigos. E pasme, não é você quem dita as regras nesse mundo. Se tentar ditar, vai se perder pelo caminho e ter que recomeçar.

Não pense que as mesmas regras que você aplica em sua vida profissional e pessoal servem também para o amor. As outras duas só dependem do seu esforço e dedicação. No amor, tem mais alguém envolvido, que pode ou não estar na mesma sintonia que você. Por isso, de nada adianta você impor regras, criar expectativas ou ficar imaginando o que o outro está pensando ou porque teve tal comportamento, não atendeu o telefone, não respondeu a mensagem. Ele pode ser uma pessoa desligada, estar cheio de trabalho, com problemas pessoais, ter viajado, estar assistindo futebol, ter ido à igreja... Ou então a bateria do celular pode ter acabado ou o aparelho pode ter caído na privada... Ele pode estar com outra ou com um amigo. Ou então, sendo mais realista, ele pode simplesmente não estar a fim de você.

Enfim, você vai ter que viver para saber, e deixar as regras e as expectativas darem lugar ao que realmente faz sentido seguir: se tiver que acontecer, vai acontecer, independente de qualquer coisa. Acredite nisso e siga em frente, mas de cabeça erguida. Pare de olhar para o umbigo para passas a enxergar a vida real.

Resgate

Chega uma hora em que é preciso admitir que as coisas não vão bem. E não é admitir para os outros, porque a essa altura os outros já sabem que as coisas não estão boas pro seu lado. É admitir para si mesmo. Parar e se perguntar: “em que ponto da minha vida eu deixei as coisas saírem do eixo?”.

Sinto que minha hora chegou. Desde ontem tenho pensado no que tenho feito da minha vida, que saiu da linha exatamente na época do meu aniversário de 27 anos. Abandonei meu blog, abandonei meus textos cheios de lições que nunca aprendi a colocar em prática, abandonei o convívio com as pessoas que mais amo, abandonei a mim mesma.


Mergulhei num outro mundo, que me parecia mágico no começo, mas que hoje sei que não acrescentou nada em minha vida, pois me tirou o direito de sonhar e me mostrou a realidade nua e crua, exatamente como as coisas funcionam. Não que eu preferisse viver um conto de fadas, isso já não passa pela minha cabeça há uns 10 anos, mas sonhar é preciso e ilusão faz bem pra gente, nos faz acreditar que pode ser melhor, que pode dar certo. Quando você encara a realidade, sem máscaras, sem ilusão, você passa a enxergar o mundo como ele é de verdade, frio, duro, cruel, e, sem perceber, você começa a se transformar por dentro. A doce sonhadora iludida dá lugar a uma pessoa desprendida, incrédula, que sabe exatamente o que vai acontecer e por isso não se esforça para se envolver mais do que o estritamente necessário. E essa pessoa não se surpreende com os absurdos da vida. Tudo se torna pateticamente normal, sem surpresas.


E assim os dias vão passando e as coisas vão perdendo seu encanto, sua graça. E você percebe que você está perdendo o encanto e a graça também. Já não se esforça mais para ser simpática, para conviver com as pessoas, para sair do casulo. E seu mundo vai ficando insignificante e você vai passando despercebida pela vida.


E o que muda com tudo isso? Nada. O sol continua a raiar, o fim do ano insiste em se aproximar, as pessoas seguem seus rumos, o mundo não para. E é nesta hora que a gente precisa de uma revolução interna. Precisamos nos refazer, nos reerguer e procurar até achar, no mais profundo do nosso ser, aquela pessoa que acreditava na vida. É preciso resgatá-la, salvá-la do mundo para poder devolvê-la ao mundo, mais forte, mais determinada, mas sem perder a doçura, a alegria de viver e a esperança de que as coisas podem ser diferentes.


Vamos conseguir? Claro que vamos, temos que conseguir. Não podemos passar nossas vidas como muitas pessoas insistem em passar: amarguradas, de mal com a vida, depressivas, achando que o mundo virou as costas para elas, quando na verdade elas é que viraram as costas para si mesmas.

05/07/2011

Mais um ciclo se encerra

E os 27 chegaram... Não é fácil encarar que os anos estão passando e que muita coisa boa já ficou pra trás. Por outro lado, é muito bom saber que os anos vividos nos trazem amadurecimento, bagagem e experiência. Os nossos valores vão se firmando, vamos tomando partido diante da vida, encaramos tudo de forma diferente e gastamos menos energia com coisas fúteis.

Hoje, posso dizer que, entre perdas e ganhos, acho que mais ganhei do que perdi. Algumas coisas teria feito diferente, mas acho que estou onde deveria estar mesmo. Escolhi errado, escolhi certo; sofri, causei sofrimento; amei e odiei; fui amada e odiada; chorei, sorri; senti dor e felicidade extrema. Aliás, viver de extremos sempre foi uma característica própria minha.

Hoje, recebi o carinho de mais de cem pessoas, por telefone, pessoalmente, mensagens no celular, no Facebook, Orkut, MSN e e-mail. Quem foi que disse que a internet afasta as pessoas? Eu acho que ela aproxima.

Gente querida, amigos, familiares, gente que está longe, gente que não vejo há muito tempo. E por aí vai! Surpresas, alegrias, ligações inesperadas, palavras e mensagens bonitas e muito choro com a ligação do meu querido avô.

Um dia mais que especial! Mais um ano de vida, mais um ciclo que se encerra. Um ciclo muito importante, que irá marcar a minha vida para sempre. Contagem regressiva para os 30 agora!

26/06/2011

Inferno na Terra

Falta de respeito, organização e vergonha. A meu ver, essas são as “melhores” palavras para se definir a Festa de Peão de Americana, em especial ontem à noite, no show da dupla Jorge & Mateus. Não sei onde estava com a cabeça quando resolvi ir neste show de horrores. Que fique bem claro que não estou criticando a dupla, que é maravilhosa. Aliás, nem consegui ver o show. Estou falando da festa mesmo, da palhaçada que foi tudo aquilo.

De um lado, uma multidão, mas multidão mesmo, de pessoas tentando se divertir e aproveitar ao menos um pouco daquilo que gastou para estar ali. Do outro lado, pessoas querendo tirar o máximo proveito disso para ganhar dinheiro às custas dos cowboys, peões, piriguetes, famílias, casais e pessoas de bem que estavam ali.

Tinha de tudo naquele lugar. Gente bêbada tropeçando nos outros; gente bêbada caída no chão e sendo carregada pelos policiais e bombeiros; piriguetes que esqueceram de colocar a calça legging e andavam com metade da bunda aparecendo; mulheres dando em cima dos homens descaradamente (que vergonha alheia!); gente vendendo comida a preço de ouro; gente vomitando na praça de alimentação. Enfim, uma pequena demonstração das espécies humanas existentes. Gente grossa, estúpida e mal educada era o que mais tinha. Mas também tinha gente de bem, querendo apenas aproveitar a festa.

Admiro muito a coragem de quem conseguiu enfrentar o mar de gente e chegar perto da arena, porque eu nem tentei. Tive medo de morrer esmagada ou sufocada. Eu e minhas amigas preferimos escolher um local, digamos, mais seguro e apenas observamos o movimento, enquanto aguardávamos o momento em que uma de nós diria “Vamos embora?”. Quando resolvemos ir ao banheiro, a fila era gigantesca, maior que da Montanha Russa do Hopi Hari em dias de grande movimento. A diferença era que andava um pouco mais rápido. Se a fila estava assim imaginem a situação do banheiro! Era de chorar. Pelo menos não cobraram pelo uso.

Resolvemos sair daquele lugar, antes que acontecesse uma tragédia, às duas horas, foi quando a dupla entrou no palco. Paguei R$ 50,00 para não conseguir assistir nada, apenas ouvir as duas primeiras músicas do show, enquanto caminhava 20 minutos rumo ao local onde estava o carro. Terminamos a noite andando sozinhas no acostamento da Anhanguera e pensando na desculpa que íamos dar para o cara do “estacionamento” para não pagarmos R$ 40,00.

Foi o inferno na Terra. Mas graças a Deus, voltamos em segurança para o céu de nossas casas.

12/06/2011

Nada como um dia após o outro

Há momentos em que o mundo parece estar desabando sobre a minha cabeça. De uma hora pra outra tudo o que parecia estar indo bem, cai por terra. De uma hora pra outra o conto de fadas vira história de terror. De uma hora pra outra um turbilhão de sensações ruins toma conta de mim. E vem o desespero e a vontade de largar tudo e sair correndo, sumir do mapa sem deixar rastros. E choro, e grito, e sofro. O coração acelera, as mãos tremem, o corpo padece, o sono não vem. E brigo com Deus. E brigo comigo mesma. A única coisa que me vem à mente é o fundo de um poço. E fico com dó de mim.

Mas aí, Deus entra em cena e traz o sono, nem que seja na base do calmante, e eu durmo. Durmo a noite inteira, enquanto ele cuida da minha recuperação. Chega um novo dia e eu acordo curada. Sinto-me outra pessoa, mais forte, mais viva, com a sensação de que mais uma derrota foi superada. E os dias vão passando. De vez em quando bate o desespero, mas Deus me coloca de volta no rumo certo. E as coisas se acalmam novamente. No final, descubro que aprendi mais uma lição, que amadureci mais um pouco. E descubro que posso ser mais forte do que eu mesma.

Cada pessoa reage de uma maneira às turbulências da vida. Cada pessoa sofre de um jeito. Cada pessoa se recupera de uma forma. Seja lá qual for a sua dor, o que fizeram com você, o que aconteceu na sua vida, lembre-se: continue a nadar. Os tombos fazem parte da vida, assim como as decepções. As pessoas nem sempre são quem gostaríamos que elas fossem. Nem todo mundo é verdadeiro. Muitos lobos se escondem em pele de cordeiro. E você não pode deixar de viver porque alguém lhe magoou ou feriu seu coração. A vida é muito mais do que isso. Nós somos muito mais do que isso. Uma pessoa não pode ser capaz de acabar com nossas vidas, de bloquear nossos corações, de nos tirar o sono. Nós somos responsáveis por nós mesmos. Não transfira essa responsabilidade para terceiros.

Não importa o quanto você se importa, algumas pessoas simplesmente não se importam. Mas não endureça por causa disso, não pense que o mundo está perdido. Os bons ainda são a maioria.

Durante muito tempo eu me fechei para o mundo ao sofrer alguma decepção, em qualquer sentido. Achava que o universo estava conspirando contra mim e que Deus não lembrava da minha existência. Esse comportamento não me levou a nada além de deixar de aproveitar as coisas boas da vida.

Estou prestes a completar 27 anos de existência e sinto que aprendi muita coisa com os tombos que levei. Mas confesso que ainda me surpreendo com a capacidade do ser humano quando caio em armadilhas. E vou continuar me surpreendendo durante toda a minha vida. A diferença é que, com o passar dos anos, as decepções passam a doer menos, porque não são mais novidade.

Na última semana, aprendi mais uma lição de vida. Aprendi que existe uma sutil diferença entre ser sincero e ser cruel: a crueldade fere a alma das pessoas. Mas, mesmo com a alma ferida, é preciso continuar e acordar num novo dia com a certeza de que ele poderá ser diferente. Com a certeza de que a ferida vai cicatrizar e de que sairemos desta mais fortes, mais preparados para a próxima turbulência.

Afinal, nada como um dia após o outro para aprendermos a viver.

05/06/2011

Calmaria da solidão

Não há nada mais calmo do que a solidão. Nada novo; tudo previsível. O telefone não toca, a mensagem não chega, o encontro não é marcado. Não há espera, não há frio na barriga, não há ansiedade, não há medo. Os dias são iguais e as coisas acontecem sempre da mesma forma. E a gente vai vivendo, sem se dar conta de que está se acostumando com isso. Sim, a gente se acostuma, mas não deveria.

A gente se acostuma a não se aventurar, a não cair de bandeja, a evitar dar com a cara no poste. E, com isso, não percebemos que estamos perdendo não só a oportunidade de nos aventurarmos, mas, principalmente, a chance de sermos felizes. A vida só tem sabor se corremos riscos, nos aventuramos, cometemos erros e fazemos loucuras. Se nada disso for possível, é como se faltasse açúcar no doce. Tudo fica sem graça.

Sou mestre em querer entender as coisas. A frase que dita o rumo da minha vida vem de Clarice Lispector: “Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo. Quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação”. Mas estou aprendendo que orientação demais faz mal, dá ruga, causa preocupações desnecessárias, leva à loucura. Ultimamente tenho preferido outra frase dela. “Viver ultrapassa qualquer entendimento”.

A vida está aí para ser vivida e não para ser entendida. O medo de sofrer causa ainda mais sofrimento. Mal entendidos, falta de diálogo, palavras não ditas, gestos mal interpretados. Tudo isso gera um turbilhão de sensações e conclusões que nos tornam cada vez mais fechados, preferindo a calmaria da solidão à turbulência da vida.

O ser humano, principalmente as mulheres, tem mania de ficar arquitetando as coisas, imaginando situações, criando ilusões, prevendo o futuro. Enquanto faz isso, esquece de viver. E esquece que “a vida é o que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos” (John Lennon).

Não se acostume com a solidão. Não se acostume com a falta de perspectiva. As tempestades nem sempre são bem-vindas. Mas, com certeza, uma chuva forte de vez em quando é boa para espantar a calmaria e fazer a gente se sentir vivo de novo.


29/05/2011

Cobertor de orelhas

Mulheres solteiras, preparem-se! Vem aí a época mais fria do ano, e nós precisamos de um cobertor de orelhas. Não há nada mais triste do que não ter um no inverno.

É muito gostoso ser solteira no verão. Você sai mais com os amigos, participa de mais happy hours, vai ao parque andar de bicicleta, aproveita os dias mais longos, vai à praia, piscina, academia... Enfim, faz um monte de coisas legais de se fazer entre amigos ou mesmo sozinha. O calor nos impede de ficarmos muito próximos das pessoas.

Ser solteira no inverno é depressivo. Você não encontra ninguém para sair porque está frio e todos preferem ficar em casa debaixo das cobertas. Quase todos os lugares são sem-graça e frios. Ninguém quer sair para tomar cerveja gelada num barzinho à noite. Preferem tomar chocolate quente num Café à tarde. O frio faz com que a gente queira se aproximar mais das pessoas. Mas os melhores programas para se fazer no inverno não são com os amigos e, sim, a dois.

No inverno, é gostoso ir ao cinema assistir a um filme bacana agarradinho. Ficar em casa debaixo das cobertas, agarradinho também, comendo pipoca e assistindo a outro filme. Passear de mãos dadas no shopping. Jantar em restaurantes legais. Ir para Campos do Jordão e regiões serranas. Preparar fondue de queijo com chocolate. Andar abraçados nas ruas. Aproveitar as horas para namorar mais, curtir mais o parceiro. Aconchegar-se e esquentar-se no corpo dele.

Não dá para viver sem um cobertor de orelhas no inverno. Adquira logo o seu antes que ele acabe. Quem perder desta vez, reze para chegar logo pelo menos a primavera para você voltar à vida de solteira sem crise.

19/05/2011

Empurrando com a barriga


“Meu casamento está falido; o que eu queria mesmo era o divórcio e a liberdade”. “Odeio o lugar onde eu moro; meu sonho era mudar para outro Estado”. “Sou menos que um número na empresa onde trabalho; minha vontade era largar tudo e montar um negócio próprio”. “Não aguento mais ser humilhada pela minha cunhada; um dia eu ainda dou uns tapas nela”. Enquanto não tomamos uma atitude, vamos empurrando com a barriga.

Nós humanos somos muito complicados. Preferimos arrastar problemas que nos consomem cada vez mais do que tomar uma atitude e mudar a situação. Parece que se não tivermos do que reclamar, se não tivermos alguma insatisfação na vida, não conseguiremos viver. Se o que buscamos é a felicidade, porque insistimos tanto em continuar nos fazendo infelizes e frustrados? Por que empurramos tanto com a barriga situações que só dependem de nós mesmos para serem mudadas?

Você já parou para pensar no tempo que você está perdendo enquanto não toma uma atitude? Eu já. Aliás, paro sempre para refletir. E de vez em quando minha consciência me pega de jeito e me faz reavaliar até que ponto vale a pena insistir em certas situações. Tive a felicidade de conseguir mudar algumas vezes, jogar tudo para o alto e fazer o que eu queria. Confesso que nunca me arrependi disso. Mas logo vem o comodismo de novo. Normal, afinal sou humana.

Mas uma coisa sempre me deixa preocupada. Quanto mais insistimos em continuar empurrando com a barriga, mais tempo perdemos, mais frustrados ficamos e mais problemas acumulamos. Se você está insistindo em permanecer em alguma situação que já ultrapassou o limite, arrume um tempo para pensar. É melhor pular fora de um barco furado do que afundar junto com ele.

11/05/2011

Direitos do consumidor

Terça-feira, 20h30, toca o telefone. Minha mãe atende e diz que é pra mim, pensando ser uma amiga. Eu atendo e pronto! Me encontraram de novo. Era do banco. Desta vez estavam me oferecendo um super cartão, cheio de vantagens, acúmulo de pontos, sem anuidade, nas funções débito e crédito, blá, blá, blá. Não prestei atenção. Ao terminar a ladainha, a moça me pergunta: “qual a melhor data de vencimento para a senhora?” Eu respondo: “não quero cartão moça. Mantenho a conta nesse banco por causa de um financiamento. Quando terminar de pagar, vou fechar a conta”. Ela não insistiu. Disse boa noite e desligou na minha cara. Antes assim do que ficar me segurando por mais dez minutos tentando me convencer de algo que já tenho opinião formada. Pronto, essa não me incomoda mais por um bom tempo. Por isso, acho melhor atender logo de uma vez, porque se mandar dizer que não estou, eles vão continuar tentando até me encontrar.

Sinceramente, tento ser o mais educada possível, porque a pessoa do outro lado não tem culpa do trabalho que tem que exercer para ganhar o pão de cada dia. Mas odeio telemarketing. Cartões, seguro de vida, títulos de capitalização, assinaturas de revistas, internet rápida, TV por assinatura, convênio funerário. Não quero nada disso. E quando eu quiser, eu ligo. Não precisam gastar tempo e dinheiro me incomodando.

Às vezes tenho vontade de aceitar tudo o que me oferecem por telefone só para ver o tamanho do arrombo que vou fazer em minhas finanças. Poderia escrever uma reportagem sobre o assunto depois. Mas é melhor não me atrever a fazer isso, senão posso passar um bom tempo recuperando o dinheiro perdido.

Mas vamos supor que você resolva adquirir um desses serviços, como fiz recentemente. E aí você descobre que foi enganado. Tente cancelar para ver se você consegue! Você não acha ninguém e quando acha a pessoa lhe encaminha pra outro, que manda pra outro e outro e você não consegue encontrar um cidadão que resolva o seu problema.

Paguei R$ 180,00 por dois meses de internet de uma operadora de celular. O problema é que eu nunca usei o serviço, pois me venderam a maravilha, mas não me avisaram que na região onde moro não tem sinal. Agora o técnico atestou que não tem como usar o aparelho em casa e, olha que beleza, vão cancelar o serviço sem me cobrar multa. E os R$ 180,00? Se eu quiser de volta, vou ter que recorrer ao Procon.

Quando meu celular foi roubado, fiquei uma hora no telefone, nervosa, tentando bloquear o número e o aparelho. Ao chegar na loja da operadora para comprar um aparelho novo, em 15 minutos saí de lá com o celular pago, um plano mensal selecionado e o número de volta, apto para fazer e receber ligações.

Até hoje recebo boletos de anuidade de um cartão de crédito que cancelei há quatro anos, após ajuda do Procon. O cartão foi quebrado e jogado no lixo, o banco foi avisado pelo Procon para não mandar mais cobrança e eles insistem em me lembrar do episódio todos os anos.

Assinaturas de revistas são quase impossíveis de se cancelar. Sempre aparecem com promoções e brindes para manter você como cliente.

Diante das duas situações ainda prefiro atender as ligações. Pior do que ser encontrado por alguém tentando lhe vender um produto é não encontrar alguém que lhe ajude a se livrar dele.

09/05/2011

Admirável mundo novo

Não tenho dúvidas de que o mundo está evoluindo cada vez mais rápido. Também não tenho como não aceitar que muitas novidades que estão surgindo são fascinantes. Hoje, não consigo imaginar minha vida sem celular e internet. O que me assusta neste admirável mundo novo é pensar em onde isso tudo vai parar! Dez anos atrás, eu me divertia com um Disc Man. Andava pra baixo e pra cima com uma disqueteira e vivia trocando os CDs quando enjoava das músicas. Hoje, ouço música no celular, quantas quiser, dos mais variados gêneros e artistas.

Fiquei extasiada quando ganhei no Natal de 1995 uma máquina de escrever Olivetti do meu avô, depois de ter concluído meu curso de datilografia. Minha vida ficou muito mais fácil. Troquei os trabalhos feitos a mão nas folhas de almaço, com espaçamento de um dedo indicador no início de cada parágrafo, por páginas e páginas datilografadas. Uma inovação!

Quando criança minhas brincadeiras favoritas não estavam relacionadas a uma tela de computador ou a um videogame de última geração. Brincava na rua de amarelinha, elástico, queimada, bandeirinha, pega-pega, esconde-esconde, taco, vôlei, bicicleta. Adorava o horário de verão, porque podia ficar até mais tarde na rua.

Quando assistia à TV, meus programas e desenhos favoritos eram os Smurfs, Ursinhos Carinhosos, Caverna do Dragão, Power Rangers, Punk, Cavalo de Fogo e Carrossel. Acordava cedo todo dia para assistir à Vovó Mafalda. Quando descobri que ela era homem, acabou todo o encanto.

Celular não existia. Internet era tão distante quanto pisar na Lua. Computador era para empresas e gente rica. Quando meu pai comprou um videocassete, alugávamos quatro, seis filmes em um final de semana. Passávamos o domingo à noite rebobinando fita para devolver na locadora na segunda-feira.

Eu tinha um LP da Xuxa que eu amava. Meu irmão tinha uma fita K7 do Michael Jackson que ele não tirava do aparelho de som super antigo da família. Eu deixava uma fita K7 virgem no som, pronta para gravar minhas músicas favoritas quando elas tocassem na rádio. Quando começava era só apertar o REC e o Play juntos.

E por aí vai. São tantas coisas que não existem mais que sinto saudade cada vez que recebo um e-mail sobre o assunto ou vejo um vídeo. Recentemente, assisti a um comercial do Itaú que mostra crianças de hoje tentando descobrir o que são alguns aparelhos antigos. O videogame Atari foi considerado uma churrasqueira por uma criança. Um dos primeiros disquetes de computador foi usado por outra como capa de CD. É incrível ver a reação das crianças diante do desconhecido. Na hora lembrei do filme Gente Grande, em que o filho mais novo do personagem de Adam Sandler fica surpreso ao ver uma televisão de tubo. Ele pergunta para o pai o que é aquela caixa atrás da TV. É assustador pensar que uma criança de três anos pode não saber o que é uma TV comum.

Bem, o jeito é acompanhar essa evolução e aprender a viver nessa nova realidade. Caso contrário, quem acabará virando peça de museu sou eu. Mas cá entre nós, não é nem um pouco complicado se adaptar às inovações e comodidades desse admirável mundo novo. Mas que dá saudades do toca-fitas amarelo, do Super Sonic e dos Mamonas Assassinas, ah dá! Não tenho como negar.

06/05/2011

Berço de ouro

O dinheiro compra bens materiais, paga viagens, garante bons estudos. Mas também compra pessoas, favores e silêncios. A vida traz experiência, maturidade, conhecimento. Mas também traz malandragem, falsidade, falta de vergonha na cara. Nesse jogo de certo e errado, de prós e contras, o que determina de qual lado da história nós vamos ficar é o berço. A nossa origem e a forma como fomos criados são responsáveis pelo o que somos hoje.

O nosso caráter é formado a partir dos princípios e valores que nos foram passados desde pequenos. Famílias desestruturadas, sem valor nenhum para transmitir, criam filhos soltos no mundo e vulneráveis. São crianças e adolescentes que estão à mercê da sociedade e, por isso, são facilmente levados para o chamado mau caminho.

Quando falamos em famílias desestruturadas logo vêm à mente a falta de dinheiro, as condições precárias de moradia, a mãe de sete filhos, sendo um de cada pai. Engana-se quem pensa assim. Prova disto é a quantidade cada vez mais crescente de jovens de classe média alta que se envolvem com crimes, tráfico de drogas, fraudes, roubos e por aí vai.

Estrutura familiar, princípios e valores não têm nada a ver com dinheiro. Têm a ver com honestidade, dignidade, ética, generosidade e, principalmente, com exemplos. Nossos filhos aprendem a ser gente vendo a gente. É observando as nossas ações, ouvindo as nossas conversas e seguindo as nossas orientações que eles vão aprender a serem humanos. O mundo lá fora também exerce influência em sua formação, porém, se estiverem bem alicerçados dentro de casa, não tenha dúvida de que eles saberão fazer a escolha certa.

Precisei desse discurso pedagógico para entender por que alguns adultos são como são hoje. Tem gente que vive escondendo sujeira debaixo do tapete e acha que nunca vai ser pego. Por outro lado, tem gente que vê tudo isso e fica calado, como se fosse normal. Quer um exemplo? Brasília. Tem um monte de político corrupto achando que pode dar golpes aqui e ali, embolsar uma grana, superfaturar uma obra que ninguém vai pegar. Quem enxerga o que está acontecendo, finge que não vê porque também está sujo na praça. Enquanto isso, o povo brasileiro que trabalha para pagar impostos assiste de camarote a roubalheira e a falta de caráter e não faz nada. É normal. Estranho seria se eles estivessem querendo devolver dinheiro para o povo ou reduzir impostos. Aí sim seria motivo para preocupação.

Em meio a esta dura realidade dou graças a Deus por ter nascido em berço de ouro. Mas no meu caso o ouro não vem do dinheiro, porque isso minha família nunca teve. O que vale ouro em minha vida são os princípios e valores que meus pais ensinaram a mim e ao meu irmão. Eles nos ensinaram que é feio roubar o que não é nosso, que é feio mentir para esconder um erro, que é feio enganar as pessoas e mais feio ainda humilhar os outros. Eles nos ensinaram que não há dinheiro no mundo que compre a honestidade e o sossego de deitar a cabeça no travesseiro e dormir tranquilo, sem peso na consciência.

Em tempos de valores invertidos, a honestidade e a ética estão valendo ouro no mercado. Se você recebeu a mesma criação que eu, é melhor não divulgar isso para ninguém. Estamos correndo sérios riscos de roubarem o ouro do nosso berço.

01/05/2011

Amigos de verdade

A vida me ensinou, e ensina a cada dia que passa, que amigos de verdade - aqueles do dia a dia, com quem a gente pode contar sempre, o tempo todo - são poucos. No máximo cinco, segundo uma pesquisa que vi na revista Superinteressante. E se pararmos para pensar em quem são nossos amigos de verdade, realmente não fugiremos muito deste número.

Amigos de verdade nos aceitam como somos, compreendem nossas limitações, apontam nossos erros, valorizam nossas qualidades, discutem conosco as divergências, mas não nos abandonam nunca. Não deixam de nos ligar, de mandar mensagem, de mostrar que existem e que se preocupam conosco. Podemos até ficar um tempo sem nos ver, mas nunca ficamos sem nos falar.

Amigos de verdade são companheiros para todas as horas, puxam nossa orelha, cuidam da gente quando estamos bêbados, bebem com a gente quando estamos sofrendo, dão conselhos, contam piadas, pagam a conta quando estamos sem grana, nos acompanham em alguma aventura maluca, mesmo não gostando, só para nos verem felizes. Amigos de verdade não nos cobram companhia, muito menos favores.

Amigos de verdade são a família que nos permitiram escolher. São os irmãos que não tivemos. São os anjos da guarda que Deus nos enviou. Uma amiga uma vez me disse que quem tem amigos não precisa de terapeuta. Eu assino em baixo.
É importante que a gente sempre pare para pensar e avaliar quem são nossos amigos de verdade. Sempre acabamos riscando um monte de gente da lista. Se você não consegue fazer esta análise, não se preocupe. Na hora certa, você saberá quem realmente são seus amigos de verdade. E quando descobrir, não deixe de valorizá-los, e nunca coloque outras pessoas em seus lugares por nenhum motivo, por nenhum período. Você certamente irá se arrepender depois.

Amigos de verdade são raros hoje em dia. O que não faltam são pessoas que se aproximam de nós por interesses que só entendemos quando não correspondemos suas expectativas. Mais do que em qualquer outra situação, na amizade o que vale é a qualidade e não a quantidade. Cinco amigos de verdade valem por um batalhão de gente conhecida.

17/04/2011

Borboletas no estômago

Como era gostoso na adolescência sentir borboletas no estômago ao ver a pessoa amada. A gente se apaixonava perdidamente e frequentava a escola não pela matemática ou pelas regras de português que tínhamos que aprender, mas sim, porque lá estava o nosso príncipe, a pessoa por quem valia a pena viver.

Bastava observá-lo nos intervalos, caso fosse de outra classe, ou ficar desviando o olhar durante as aulas só para vê-lo na outra fileira ou no fundo da sala. Os finais de semana e os feriados demoravam uma eternidade para passar. Como era bom estudar!
Muitas vezes o amor era platônico. Estávamos na quarta série e gostávamos do bonitão da oitava. Ou então caíamos na besteira de nos apaixonar pelo mesmo garoto que nossa amiga ou então pelo “garanhão”, por quem todas as meninas da escola eram caidinhas.

Bons tempos eram aqueles. O frio na barriga, o vazio no estômago, a sensação maluca que dava só de olhar para ele. Naquela época antes do “ficar” existia o “conhecer”. Quando um garoto estava a fim de você, ele pedia para lhe conhecer primeiro. Vocês se apresentavam, trocavam três beijinhos no rosto e conversavam um pouco. Tudo na frente dos amigos. A partir daquele dia, seus dias passavam a ser bem melhores, porque você podia cumprimentar seu amor na escola. Se um dos dois gostasse, de preferência ele, aí sim vinha o pedido para ficar. Então, os amigos marcavam um encontro entre vocês, geralmente no escadão, atrás da escola ou numa casa abandonada. E você passava a andar nas nuvens.

Se ele não gostasse de você e lhe desse um fora, a dor era profunda. Você passava os dias chorando e se arrastando, pensava em trocar de escola e suas amigas tinham que lhe consolar. Se você o visse com outra então, era a morte. Depressão na certa.
E assim a gente vivia. E uma coisa era certa: se o garoto não lhe fizesse sentir borboletas no estômago, você não estava apaixonada.

Hoje em dia, a história é outra, tanto no mundo dos adultos quanto entre os adolescentes. Ninguém tem tempo para esperar as borboletas aparecerem no estômago. Ninguém tem tempo para paquerar. Basta um olhar, um “fui com a sua cara” e as pessoas já estão se beijando, muitas vezes sem sequer saber o nome umas das outras. Mas isso não importa, porque provavelmente vocês nunca mais vão se ver mesmo.

Não existe mais o “pedir em namoro”, isso é brega. As pessoas vão arrastando o “ficar”, levam para conhecer a família e pronto. Estão namorando. Se daqui a duas semanas não der mais certo, tudo bem, a gente termina. Os casamentos também estão ficando assim. Muitos casam porque já passou da hora, porque a família está em cima, porque querem dar uma festa maravilhosa, porque querem sair da casa dos pais, porque o cara é rico, porque querem um filho... Amor? O que é isso? Não, a gente não tem tempo para o amor. Amor dói, amor deixa a gente vulnerável, amar é para os fracos.

E assim a gente se arrasta, vivendo superficialmente e deixando de sentir borboletas no estômago. Quem ainda tem o privilégio de sentir isso, aproveite. Não há nada que nos faça sentir mais vivos, humanos e cheios de amor para dar do que aquele friozinho especial na barriga.

14/04/2011

Ser tudo, menos humano

É incrível como muitos querem ser tudo, menos humanos. Uns acham que são Deus e acreditam que o mundo inteiro gira em torno de suas vontades. Outros optam por serem heróis, se julgam invencíveis e buscam poder a todo custo. Há ainda os que querem ser celebridades instantâneas e perdem a humildade, o bom senso e, em alguns casos, até a dignidade e o caráter só para aparecerem.

Conheço algumas pessoas que tentam ser a estátua do Cristo Redentor no Rio Janeiro e querem abraçar tudo. Embora Hitler já tenha partido dessa para pior há muito tempo, seus discípulos ainda habitam o planeta. São os que humilham, que impõem respeito à base de pancada, que pisam nas pessoas e que vendem até a alma para conseguirem o que querem.

Para quem pensa que overdose de políticos só existe em Brasília, é melhor olhar mais para os lados. Tem um monte deles convivendo conosco. São os que não se indispõem com ninguém, que prometem tudo para todos e a mesma coisa para vários e que, quando são pegos, tratam logo de arrumar uma desculpa para se safarem.

Nem os desenhos animados e os contos de fada escapam hoje em dia. O Pinóquio tem várias versões no mundo moderno. Se o nariz ainda crescesse a cada mentira, tem gente que não conseguiria dormir, porque a “napa” ficaria batendo no teto do quarto. As bruxas também ganharam seus modelos no século XXI. Agora elas disfarçam melhor. Não têm mais verruga no nariz, nem vassoura, mas estão sempre prontas para cozinhar alguém em seus caldeirões. Também tem muito lobo mau fantasiado de vovozinha, sapos que se disfarçam de príncipes e Avatares traidores.

O reino animal não poderia ficar de fora dessa. Tem gato em cima do muro; coruja à espreita; cobra pronta para dar o bote; raposa esperta e pavão se mostrando de qualquer jeito.

Está cada vez mais difícil encontrar um ser que queira ser humano. Porém, é muito fácil identificar quando se encontra um. Um humano que mereça ser chamado assim é educado, honesto e justo, acima de tudo. Um ser humano de verdade não se importa com a fama. Seu sucesso vem do seu trabalho e de suas atitudes e não da necessidade de se mostrar a todo custo e a qualquer momento.

Um ser humano trata outro ser humano com respeito, independente de sua cor, raça ou classe social. Não faz como muitos que chegam a tropeçar nas pessoas e continuam se recusando a cumprimentá-las. Um ser humano de verdade não consegue dormir em paz caso tenha cometido alguma injustiça. Também não vive de aparências e repudia a mentira e a falsidade. Seres humanos erram, sabem reconhecer seus erros e não se importam de pedir desculpas.

Seres humanos não precisam representar, simplesmente porque não têm que provar nada a ninguém. O resto do que vemos por aí são produtos falsos, exemplares estragados, personagens, imitações, desenhos animados, animais, portas... São tudo, menos humanos.

12/04/2011

Cobras venenosas

No final de semana, minha família e eu estávamos reunidos em nossa chácara quando fomos surpreendidos pela presença de uma cascavel que não havia sido convidada para o evento. A cobra estava escondida na entrada da chácara esperando para dar o bote. Ela só foi descoberta porque meu pai quase pisou em seu corpo esbelto. Quando todos se deram conta da intrusa começou uma discussão sobre o que fazer com ela. Algumas outras pessoas se aproximaram para ajudar na decisão.

Enquanto meu pai tentava a todo custo, com uma vara, impedir a cascavel de entrar na chácara, eu tirava os cachorros de perto; minha prima fotografava o animal; meu tio filmava; meu primo pedia para que colocássemos a cobra em uma caixa para ele levar para o Butantã; minha mãe ligava para o meu avô ir até o local para ajudar na discussão; um transeunte falava para jogarmos a cobra no mato e deixá-la partir; outro dizia que não podíamos fazer isso porque ela poderia picar alguma criança; e o vizinho, ah! o vizinho, esse só falava em matar a cascavel, e se gabava dizendo que já havia acabado com a raça de várias cobras.

Eis que chegam, para analisarem o caso, o meu avô e uma bióloga que estava a passeio em sua casa. Minha avó, minha prima e minha tia também estavam com eles. Minha mãe a essa altura já tinha buscado a caixa onde a cobra seria colocada. E eu já havia tentado ligar para a polícia para pedir orientação, e desistido. Aí a bióloga sugeriu que colocássemos a cobra em uma garrafa. Enquanto isso, meu pai continuava impedindo a intrusa de entrar na chácara. Só parava de arrastá-la quando ela ameaçava dar o bote.

Aquela muvuca em volta da cascavel permaneceu até que, num breve momento de distração do meu pai, o vizinho (aquele com instinto assassino de animais) tomou-lhe a vara e deu umas varadas na cabeça da cobra, matando a coitada. Neste momento, a bióloga começou a chorar, um cara vibrou a morte da cascavel, meu primo entrou na chácara enfurecido, com vontade de bater no homem, e o restante ficou olhando para a cena com cara de “ué”. Pronto, o caso da cobra estava solucionado. Simples assim.
Eu fiquei indignada com o que vi. Por que ninguém impediu aquele homem de fazer aquilo? Simplesmente porque todos nós fomos pegos de surpresa, embora todos soubessem que ele estava querendo matar a cascavel. Mas tomar a decisão assim, sem perguntar a opinião dos outros? Outra coisa, a cobra estava na calçada da chácara da minha família, tentando participar do nosso churrasco. Então, ela era nossa. Ninguém podia matá-la sem nossa permissão.

Esta história serve perfeitamente para ilustrar situações que nos deparamos constantemente. Quantas vezes tomamos cuidado para não pisarmos em local errado, com medo das cascáveis e, no final, elas estão do nosso lado e atacam quando menos esperamos?

Na história do final de semana, o verdadeiro veneno não vinha da cobra e, sim, do vizinho que chegou se fazendo de amigo, querendo ajudar. Quando menos se esperava, ele deu o bote, surpreendendo a todos.

Cuidado onde você pisa. Cuidado com o veneno camuflado em certas pessoas. Nem sempre a cobra venenosa é aquela que você acha que vai lhe picar. O bote pode vir de onde você menos espera, ou até espera, mas não acredita que possa acontecer.

06/04/2011

Muito além do pão de cada dia

Dizem que salário não é tudo. E eu concordo com isso. Trabalhar é muito mais do que apenas dar conhecimento e experiência e receber em troca dinheiro e um pacote de benefícios (alguns maquiados). Quem dera se o trabalho servisse apenas para se comprar o pão de cada dia! A realidade é muito mais complexa que isso.

Trabalhar é ocupar a cabeça, exercitar o cérebro, relacionar-se com as pessoas, aprender, ensinar, tolerar, ter paciência. O trabalho traz dignidade, ajuda na formação do caráter, fortalece a mente, encoraja, amadurece e é capaz de formar um ser humano. Trabalho é local de amizade, de desafios, de momentos alegres e tensos. Também é lugar de estresse, humilhação, esgotamento, falta de respeito, paciência e tolerância.

Além de tudo isso, ainda passamos mais tempo no trabalho do que com a nossa família. Dispensamos mais horas trabalhando com pessoas desconhecidas ou que não gostamos, do que curtindo as pessoas que mais amamos na vida. Muitas vezes, trabalhamos mais do que as horas estabelecidas em contrato. Damos o sangue, enfrentamos os desafios, resolvemos problemas, assumimos responsabilidades e superamos as expectativas. Alguns são valorizados e reconhecidos por tanto esforço e dedicação. Outros passam despercebidos aos olhos das chefias ou recebem o mesmo tratamento que aqueles que pouco contribuem com a empresa.

Diante de toda essa complexidade trabalhista, fica cada vez mais difícil encontrar um equilíbrio na relação empresa X empregado. De um lado, as empresas exigem cada vez mais de seus profissionais e nem sempre estão dispostas a pagar por isso. Ou então sequer oferecem uma estrutura básica de recursos humanos e tecnológicos, além de condições de trabalho para que o serviço seja feito com a excelência exigida.

Por outro lado, os profissionais estão cada vez menos capacitados para atender às necessidades das empresas. Como se não bastasse a falta de conhecimento técnico e experiência, está cheio de gente no mercado que adora fazer corpo mole, reclamar da empresa e dos benefícios, que é irresponsável com suas atribuições, não trabalha um minuto além do combinado, não derrama uma gota de suor para agilizar o trabalho atrasado ou para melhorar seu desempenho. Além disso, comporta-se mal, tem problemas de relacionamento com os colegas de trabalho e ainda exige tudo e mais um pouco da empresa.

Encontrar um bom profissional não é fácil. É tão difícil quanto encontrar um bom emprego. Ambos são concorridos. Todo mundo está atrás deles.

Nunca foi tão complicado levar o pão de cada dia para casa.

05/04/2011

A dor do crescimento

Quando eu tinha uns nove anos de idade, minha mãe me levou ao médico porque eu sentia muitas dores nos joelhos. Depois de me examinar, o doutor virou para ela e disse: “Não se preocupe, o que ela tem é normal. É a dor do crescimento”. Dizem que quando nosso corpo está se desenvolvendo é natural sentirmos dores nos ossos. Na época, não entendi muito bem o sentido da coisa. Mas, hoje, sei que não é só o crescimento físico que dói. Crescer emocional, profissional e pessoalmente também é muito doloroso.

Descobrir o mundo dos adultos dói, enfrentar o mercado de trabalho também dói. O primeiro amor dói. Decepções doem muito. Desilusões mais ainda. Dói quando somos passados para trás, quando somos traídos. A dor da perda é imensurável, assim como a dor de amor. O desemprego, o desespero, o desapego, o desfiladeiro... Tudo dói.

Quantas vezes enfrentamos enormes barreiras, tropeçamos nos outros e em nós mesmos e caímos no abismo? Tudo para que possamos crescer, evoluir e nos tornar pessoas melhores, profissionais de sucesso, amigos fiéis, companheiros leais. Não há crescimento sem dor, sem renúncias, sem sacrifícios. Quer ganhar mais dinheiro? Vai ter que trabalhar mais. Quer ser alguém na vida? Precisa estudar enquanto todos estão pelos barzinhos da cidade. Quer adquirir bens? Precisa poupar enquanto os outros consomem. Quer amar e ser amado? Vai precisar de menos egoísmo e mais paciência e renúncia. Quer ser uma pessoa melhor? Supere as diferenças, esqueça as mágoas, perdoe quem lhe fez sofrer, ajude alguém a se levantar. Só assim você crescerá. E pode ter certeza de que isso vai doer.

Lembre-se: A dor é inevitável; o sofrimento é opcional – Carlos Drummond de Andrade

03/04/2011

Mais de nós mesmos

Assisti a um filme que, apesar de ser uma comédia, acabou funcionando como uma espécie de autoajuda. A história era baseada na vida de Alice, uma mulher que estava enlouquecendo por não dar conta de tudo: trabalho, filhos, casa, marido. No meio de uma sequência de coisas erradas, Alice surta e três dela surgem refletidas no espelho. As três Alices imaginárias passam a viver no lugar da original.

Uma versão de Alice só pensa no trabalho e dedica todo o seu tempo para ele. A outra só tem tempo para a casa e as crianças. Já a terceira se preocupa apenas em ficar bonita para seduzir o marido. No início tudo parecia perfeito. Cada uma desempenhava sua função de uma forma que Alice jamais tinha conseguido se dedicar. Um sonho. Porém, logo as coisas começaram a sair do eixo de novo. Como cada uma só sabia desempenhar um papel, acabaram ficando obcecadas pelo o que faziam e começaram a trazer problemas para a verdadeira Alice.

Não vou contar o final do filme. Ele se chama Mais de Mim Mesma. Ótimo título e excelente tema para tratarmos aqui.

Quantas vezes nos desdobramos em várias pessoas para conseguirmos fazer tudo o que achamos que precisamos fazer? E porque julgamos que temos que ser bons em tudo o que fazemos? Por que insistimos em querer agradar a todos a todo instante? Qual o problema em sermos normais? Qual o problema em errarmos? Qual o problema em não atendermos todas as expectativas dos outros em relação a nós? E porque nos culpamos tanto?

É impossível termos mais de nós mesmos. Não dá para sermos, ao mesmo tempo, excelentes profissionais, mães e pais maravilhosos, esposas e maridos dedicados, filhos exemplares. Somos seres humanos e, como seres humanos, somos limitados e cheios de defeitos. Por isso, há momentos na vida em que temos que ceder, que renunciar certas coisas em nome de um bem maior.

Aceite os seus limites. Estabeleça prioridades em sua vida. Se sua prioridade é a sua família, não deixe o trabalho lhe ocupar mais do que o tempo necessário. Se sua prioridade é o trabalho, não seja irresponsável com ele. Se a sua prioridade é curtir a vida, aventurar-se, não se prenda em um lugar só. Se a sua prioridade é o amor, não descarte as pessoas que você mais ama.

Lembre-se, ninguém consegue dar a mesma importância e se dedicar a tudo o que quer ao mesmo tempo. Busque o equilíbrio das coisas. Seja menos exigente e duro consigo mesmo. Ninguém é perfeito. Mas todos nós somos únicos.

31/03/2011

A sabedoria dos mais velhos

É impressionante como as pessoas mais velhas não servem para nada. Vivem tentando nos ensinar alguma coisa; estão sempre se metendo onde não são chamadas; acham que o que viveram 50 anos atrás pode servir de lição ainda hoje. Coitados, eles não sabem nada sobre o nosso mundo. Mas temos que respeitá-los, pois eles estão no fim da vida. Logo, logo Deus leva.

Você já parou para ouvir as besteiras que as pessoas mais velhas dizem? Talvez não. Afinal, não temos tempo para coisas que não vão nos acrescentar nada. Pois deveríamos. É justamente por não termos tempo de ouvir os mais velhos que somos mesquinhos, arrogantes, egocêntricos e metidos. É por falta de ensinamento sobre a vida que desafiamos os limites, desrespeitamos as regras, nos achamos os donos da verdade, nos comportamos como se fôssemos imortais.

Todos nós precisamos de lições de vida, moral, boa conduta, sabedoria, humildade. São matérias que não se aprendem em nenhuma escola, muito menos na mais conceituada universidade de qualquer coisa do mundo. E não há dinheiro que pague esses ensinamentos. São tesouros que nós só descobrimos com os nossos pais, avós, com o senhorzinho da pracinha.

Os jovens de hoje, e eu me incluo neste meio, estão precisando de um choque de humanidade. Estão precisando aprender a viver com mais dignidade, honestidade, tolerância, respeito e, principalmente, humildade. Muitos acham que são os donos do mundo, mas não conseguem dominar nem o próprio caráter. Mudam de opinião como mudam de roupa e não conseguem sustentar um ideal. Agem de acordo com a conveniência.

Aqui vai uma dica para quem quer preencher o vazio da mente e da alma. Ouçam os mais velhos e aprendam com eles. Aqueles que estão fazendo hora extra na Terra possuem uma sabedoria capaz de nos fazer esquecer um pouco do nosso mundo e abrir os ouvidos e o coração para aquilo que realmente pode fazer a diferença em nossas vidas.

Hoje, assisti no GNT a reprise de uma entrevista de Marília Gabriela com o ex-vice-presidente, José Alencar, exibida no dia 08 de novembro de 2009. Foi uma aula de fé, de integridade, de honra e de humildade, virtude muito citada por ele durante a entrevista. Ao ser questionado sobre a sua insistente luta contra o câncer, Alencar disse: “Eu não tenho medo da morte. Eu tenho medo da desonra”. E continuou: “Se Deus quiser me levar, ele não precisa de câncer para me levar. Se ele não quiser me levar, não há câncer que me leve”. Nesta hora, me senti um ser humano que não merece o que tem.

Em outro trecho, Alencar comentava sobre a quantidade absurda de manifestações de carinho e de pessoas que oravam por ele em todo o país. “Peço a Deus que me dê humildade para que isso não me suba à cabeça e que eu não me sinta o tal”. E assim foi durante toda a entrevista. Levei um tapa na cara atrás do outro. E aprendi muito com esse senhor de quase 80 anos, no fim da vida, como costumamos dizer.

Deus decidiu levar José Alencar na última terça-feira, mas graças à tecnologia suas entrevistas e suas lições poderão se perpetuar por muitos e muitos anos. Quem sabe ainda possam ensinar muitos jovens a descerem do pedestal.

José Alencar encerrou a entrevista com mais uma lição, ao citar uma frase de Miguel de Cervantes. “A humildade é a mais importante de todas as virtudes. Tão importante que, sem ela, não há virtude que o seja”. Não há curso no mundo que me ensine o que eu aprendi com José Alencar.

Quem quiser aprender um pouco com ele, o Youtube está repleto de vídeos com suas aulas.

29/03/2011

Universo feminino

Mulher gosta de gastar dinheiro e pronto. Não importa se é pobre ou rica, gorda ou magra, branca ou negra, chique ou brega. Mulher adora uma promoção, uma feirinha de artesanato, uma tarde de compras no shopping, um passeio pelas ruas José Paulino e 25 de março, em São Paulo. Mulher adora ir ao cabeleireiro cortar as pontas do cabelo, fazer as unhas, depilação, limpeza de pele. Não importa se é no salão mais caro da cidade ou na vizinha da esquina que acabou de aprender as fórmulas para a beleza feminina.

Mulher adora coleção. De cartões de crédito com limites altos e várias datas de pagamento, de roupas, sapatos, bolsas, bijuterias. Não importa se a marca é Prada, comprada em uma viagem ao exterior, ou uma falsificação idêntica adquirida no camelô da feira de domingo. O importante é ter um guarda-roupa repleto de opções, mesmo que não use a metade. E é por isso que mulher vive dizendo que não tem o que vestir.

Mulheres adoram fofocar no banheiro. Quando se unem em prol de um bem-comum, sai de baixo. Ninguém é capaz de derrubá-las. Mas mulheres também adoram competir e vivem enxergando umas às outras como concorrentes.

Mulher tem necessidade de ser amada e compreendida. Costuma falar nas entrelinhas e acha sim que os homens possuem bola de cristal para adivinharem o que ela está pensando.

Mulher não sabe pensar em uma coisa de cada vez. Precisa exercitar o cérebro colocando tudo o que é possível lá dentro. Da roupa que vai vestir na festa de casamento da amiga à comida que vai preparar no jantar, passando pelo livro que gostaria de ler, o cinema com as amigas e o novo perfume que precisa comprar porque viu na TV e percebeu que aquilo é um item de extrema necessidade em sua vida.

Mulher não é muito chegada em tecnologia. Vive apanhando dos aparelhos. Mas como adora estar na moda, não deixa de adquirir seu mais novo brinquedinho só porque não entende como ele funciona. Como é dotada de inteligência e capacidade de assimilação, logo aprende a lidar com as inovações.

Toda mulher deveria ter direito a um carro zero Km com direção hidráulica, vidros elétricos e sistema que avisa quando é a hora da revisão. Desta forma, ela só precisa se preocupar com três coisas: falar para o frentista olhar a água do carro e calibrar os pneus; levar para a revisão quando o sistema avisar e colocar gasolina ou álcool, dependendo do que compensa mais. Nestas horas, tem sempre um homem para dizer quando é vantagem abastecer com um ou com o outro.

Mulheres adoram se interar sobre os novos tratamentos cosméticos, as cores da estação, os sapatos da moda, as dietas da vez, os alimentos saudáveis. Também estão por dentro dos acontecimentos no Japão, da crise econômica em Portugal, do desmatamento na Amazônia, dos estudos com células-tronco, dos impactos ambientais causados pelo homem.

Mulher só não está por dentro dos jogos do campeonato de futebol, da capa da Playboy deste mês, das peças que precisam ser trocadas no carro, de como fazer uma baliza sem precisar manobrar mil vezes, da diferença entre as marcas de cerveja.
Bem, toda regra tem sua exceção. É claro que existem as mulheres que são diferentes de tudo o que foi citado. Elas são tão fáceis de encontrar quanto homens que não gostam de futebol.

28/03/2011

A ciência da vida

Se a vida fosse uma ciência exata, poderíamos medir nossos atos e as consequências deles. Poderíamos esticar uma trena e calcular nossos sentimentos e saber, com exatidão, se amamos mais ou menos que alguém. Poderíamos saber o real tamanho das nossas tristezas e alegrias. Poderíamos dizer, com certeza, o quanto magoamos alguém. Daria para pesarmos tudo e, desta forma, saber a hora certa de tirar o peso das costas. Saberíamos os quilos exatos de uma consciência pesada. E tudo poderia ser feito na medida certa, com a quantidade exata de ingredientes. Nada a menos, nada a mais. A vida seria bem mais fácil.

Mas a vida não é uma ciência exata, é uma ciência humana. E por ser humana é cheia de incertezas, de indecisões, falhas, consequências, decepções, surpresas que não se podem mensurar. Tudo é relativo. Tudo é subjetivo. Tudo depende de um ponto de vista. Como saber se somos amados tanto quanto amamos? Como saber se magoamos tanto quanto fomos magoados? Como saber se somos tão felizes quanto julgamos ser? Para essas outras perguntas não existem respostas na ciência da vida.

Somente com o passar dos anos e com a experiência adquirida através dos tombos e glórias chegaremos à sabedoria necessária para entender o real valor de tudo o que tentamos mensurar a vida toda. Então, descobriremos que para algumas coisas caímos na real tarde demais. Por isso, nada melhor do que o bom senso para nos dizer e nos fazer entender o quanto representa cada sentimento, ato ou consequência em nossa vida e na vida do outro. Afinal, cada um tem sua própria balança e fita métrica para medir as coisas de acordo com sua conveniência e bagagem de vida.

27/03/2011

O que sinto

Nunca consegui falar o que sinto. Sempre me comuniquei melhor com as palavras escritas. Elas me possibilitam pensar antes de escrever. Palavras faladas saem sem pensar e machucam mais facilmente. Mas tenho dificuldades de expressar o que sinto mesmo através de palavras escritas, porque não sei ao certo o que sinto.

Por um lado tenho tudo o que quero. Por outro me falta tudo o que sempre quis. Às vezes sinto que deveria largar tudo e fugir, ir embora daqui, e começar uma vida em outro lugar. Mas isso não vai mudar o que sinto. O que está dentro de mim vai me acompanhar para onde quer que eu vá. Às vezes sinto que deveria seguir meu coração e ir atrás do que ele quer. Mas sinto também que não sei exatamente o que ele quer.

O que eu sei é que o que sinto dói. Sinto dor no peito, no coração e na cabeça. Dores que chegam de repente e, repentinamente, vão embora. Dores que me apavoram, que me fazem chorar, que me fazem temer os fantasmas que estão escondidos no fundo da minha alma e que insistem em me assombrar. Às vezes sinto que me arrasto pela vida e a vejo passar pela janela do meu quarto sem esboçar qualquer reação, sem ter coragem de levantar e seguir em frente. No dia seguinte, tudo parece estar no lugar de sempre, o dia está lindo e eu agradeço a Deus por mais uma chance de continuar vivendo.

Essa confusão de sentimentos me consome. Ao mesmo tempo, me dá forças para não desistir de lutar, na certeza de que dias melhores virão. Afinal, tudo o que sinto só diz respeito ao meu presente e ao meu passado. Não posso sentir o futuro. Em relação a ele, só sei que nada sei.

23/03/2011

A vida alheia

Por que será que a vida do outro parece mais fácil, mais bonita e mais legal que a nossa? Não são raras as vezes que nos pegamos desejando o que é do outro. Não estou falando de inveja e, sim, de descontentamento com a própria vida.

Achamos que o emprego do outro é o melhor do mundo, que o namorado da nossa amiga é mais charmoso, que a casa do vizinho é mais bonita. Sonhamos com o que o outro tem. Ah!, se eu tivesse um carro daquele seria o homem mais feliz do mundo. Ah!, se eu tivesse um marido como aquele passaria o resto da minha vida ao lado dele.

Enfim, a vida alheia nos parece sempre mais interessante. Mas não é. Todo mundo tem problema; todo mundo tem queixas a fazer. Claro que cada um em proporções diferentes, porque cada ser humano pode encarar a mesma situação de formas distintas, dependendo de sua bagagem de vida, cultura, valores, criação etc.

Digo que a vida do outro não é mais interessante que a nossa, porque todos nós somos fabricados em duas versões: o que somos no fundo, na essência – e que pouquíssimas pessoas conhecem - e o que representamos na sociedade. Sim, todos nós somos personagens de nós mesmos. Não confundam personagem com falsidade, falta de personalidade ou caráter.

Representar é necessário para viver em sociedade. Quantas vezes, na frente das pessoas, temos que tolerar alguém que odiamos quando na verdade a vontade que temos é de esbofeteá-lo? E por que não esbofeteamos? Porque existem as convenções sociais que nos impedem de fazer isso, que nos impõem limite e regras de boas maneiras e nos fazem acreditar que, se fizermos isso, será pior para nós mesmos.

Isso tudo quer dizer que não temos como saber se o emprego do outro realmente é o melhor do mundo, porque o que vemos da vida dele são apenas as aparências. Não estamos com ele no dia a dia para conhecermos a realidade. Será que a sua amiga realmente não tem queixa nenhuma do namorado mais charmoso do pedaço?

Ninguém nunca está plenamente satisfeito com o que é e com o que tem. Estamos sempre buscando mais. E isso é saudável, desde que feito de forma equilibrada. Querer mais, continuar sonhando e lutar para conquistar nossos sonhos e objetivos é o que nos mantém vivos. O dia que estivermos plenamente satisfeitos com tudo o que fizemos e temos na vida, não teremos mais o que fazer neste mundo.

Por isso, antes de olhar pelo buraco da fechadura do vizinho e querer o que é dele, pense se você não é mais feliz com o que você tem. Afinal, “se todos jogássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos os de todo mundo, pegaríamos os nossos de volta” (autor desconhecido). A vida alheia pode não ser tão boa quanto parece.

22/03/2011

Motivo para chorar

Têm horas que o que mais precisamos é de um motivo para chorar. Quantas vezes não desabamos por uma besteira? Ninguém entende porque choramos tanto por causa de uma blusa manchada, um tombo ou um objeto perdido, quando na verdade precisávamos apenas de um motivo para as lágrimas rolarem. Chorávamos mesmo era pelo amor perdido, pelo desemprego, pela solidão, pela falta de perspectiva, pela vida fora do eixo.

Antigamente, eu chorava por qualquer coisa. Mas a vida foi me endurecendo e confesso que não lembrava mais quando fora a última vez que eu havia derramado lágrimas. Mas semana passada eu arrumei um tempo e um motivo para colocar o choro em dia. Desabei.

Por alguns momentos minha vida pareceu não ser mais minha. Chorei por coisas que julgava estarem superadas. Chorei por erros do passado. Chorei por uma situação que achava que estava sob meu controle. Chorei por causa da humanidade. Chorei por causa de pessoas desumanas. Chorei por amores perdidos. Chorei pela falta de amor. Chorei por medo do futuro.

As lágrimas se foram e a minha vida pareceu ter voltado ao normal. Estou forte e sem olheiras. Nenhum vestígio do desabamento. Consegui me recompor, coloquei a máscara de volta, vesti minha capa protetora e voltei para o palco para representar meu papel na sociedade. Quando o copo estiver cheio não vão faltar motivos para ele transbordar novamente. A pergunta é: quanto tempo vai levar para encher de novo?

21/03/2011

Mulher e tecnologia não se entendem

Fui à loja da operadora de celulares para comprar um aparelho novo, já que o meu foi roubado na sexta-feira passada. Vamos ao dilema:

- Pois não, posso lhe ajudar? – perguntou a atendente.

- Vim comprar um celular novo porque o meu foi roubado! – respondi.

- Ah tá, e você já sabe qual modelo vai querer? – pergunta a moça desinteressada pela minha situação. O que ela queria mesmo era me enfiar o aparelho mais caro da loja.

- Então, me explica uma coisa primeiro. Qual é a diferença deste celular que vem com internet (o mesmo que eu tinha antes de me roubarem), um Smartphone e esse tal de Android?

- O Smartphone é um mini-computador. Ele armazena arquivos, faz download etc. O celular normal tem acesso à internet, mas não tem WI FI, nem 3G, ou seja, a internet é lenta. Já o Android é um sistema operacional, tipo o Windows. Você consegue baixar milhões de aplicativos nele.

- Ah tá, então gostei desse aparelho aqui. Achei mais bonitinho. Acho que vou levar ele.

Não entendi bulhufas. O que eu vou fazer com milhões de aplicativos? Eu nem sei direito o que é isso e para quê serve. E por que eu vou querer um mini-computador se eu acabei de comprar um netbook, que pra mim já é um mini-computador?

Melhor usar a intuição feminina nesta hora. Escolhi um aparelho pela beleza, pela marca e pelo preço acessível ao meu bolso.

No final, trouxe pra casa um Smartphone, com câmera de 2MB, 3G, WIFI, o tal do Android, tela touch, GPS e cartão de memória de 2GB. Só achei o aparelho um pouco grande demais para o meu gosto. Deve ser porque tem muita coisa dentro dele. E ainda troquei o meu plano. Agora vou pagar R$ 68,00 por mês e tenho 45 minutos para falar, mais 50MB de internet, mais 45 torpedos, mais 60 minutos para usar à noite e nos finais de semana, mais 800 minutos para ligar para celular da mesma operadora caso tudo isso acabe. Se ainda assim não bastar e eu gastar mais, não ficarei na mão. O valor é acrescentado na conta. Nossa, será que vou dar conta de usar tudo isso? Sinceramente, não sei fazer uma relação entre o que eu gasto por mês e o que tudo isso de vantagem representa. Pode ser que seja menos do que eu preciso, sei lá, ainda estou confusa.

A moça fez tudo o que tinha que fazer, recebeu o dinheiro da compra e disse:
- Seu número já está liberado. Você vai levar o celular na mão ou quer que eu coloque na caixa?

- Como assim liberado? Se alguém ligar pra mim eu já consigo atender?

- Sim. Você já quer levá-lo na mão?

- Não, pode colocar na caixa. Se alguém ligar eu não vou saber atender mesmo. Tenho que aprender a lidar com o aparelho primeiro.

Saí da loja com a sensação de que fiz um ótimo negócio. Não entendi metade do que a moça falou, mas acho que tenho um tesouro nas mãos. Vou até fazer um seguro deste aparelho para, caso ele seja roubado também, eu não me sinta tão lesada.

Corri para o guichê do estacionamento, porque, na verdade, minha maior preocupação era fazer tudo em 20 minutos para não ter que pagar R$ 4,00 por ter deixado o carro no shopping durante a compra do celular. Mas não deu tempo. Passaram-se dois minutos do tempo limite para estacionar de graça. Talvez se eu não tivesse perguntado a diferença entre esse monte de tecnologia, teria dado tempo de sair sem pagar o estacionamento.

Agora estou em casa com o aparelho na mão sem saber como ele funciona. Da última vez que comprei um celular, demorei um mês para me entender com a tela touch. Minha expectativa é bater o recorde. O importante é ir aos poucos. Já testei para ver se toca mesmo. Não gostei da música. O próximo passo é trocar a melodia e tentar começar a recuperar meus contatos. GPS acho que nunca vou usar. A internet sim. Mas isso eu tenho uns 15 dias para aprender como funciona. O tal do Android é melhor eu nem entender para que ele serve. Já não tenho tempo pra nada. Se eu gostar deste troço, vou ter que parar de dormir para dar conta de tudo.