13/02/2011

Imperfeita

Confesso, a quem possa interessar, que sempre quis ser perfeita, mas não sou.

Gosto de fazer o que quero sempre. Procuro ouvir a opinião dos outros, mas tenho dificuldades em aceitar críticas. Ouço conselhos apenas de quem eu confio, mas confesso que demoro muito para confiar em alguém. Tenho um mundo próprio. Não deixo as pessoas entrarem nele com facilidade. Mas, com muita alegria, informo que já estou mudando isso.

Gosto de me iludir com filmes românticos, achando que um dia vou viver um amor assim. Gosto de cheiro de mato, de terra molhada e comida feita no fogão a lenha. Adoro andar descalço. Gosto de viajar com as amigas e de conhecer lugares diferentes. Amo Ilhabela e tenho curiosidade em conhecer o Sergipe. Não sou fã de comida diferente. Gosto de música sertaneja. Adoro dançar. Não gosto de surpresas.

Tenho um sorriso fácil e sei ser sociável quando quero. Não gosto de gente que se acha, de gente lerda, de gente grossa, de gente medíocre. Odeio quem só reclama e não corre atrás da vida. Odeio quem vive a vida alheia. Mas confesso que também sei reclamar e futricar sobre a vida dos outros. Eu sei ser cruel.

Gosto de ser elogiada e reconhecida. Mas não vivo em busca disso. Estou longe de ser a melhor profissional, a melhor filha, a melhor amiga. Mas me esforço para ser melhor a cada dia. Não gosto de ser bajulada. Odeio puxa-saco.

O único sentimento que sei disfarçar é o amor. O resto está na minha cara. É fácil saber se estou feliz, triste, doente, com medo, de mau humor, com raiva.

Aprendi com Shakespeare que quando estou com raiva, tenho o direito de estar com raiva, mas não tenho o direito de ser cruel. Por isso, tento, com muito esforço, ficar calada em momentos de fúria. Mas tenho pavor de injustiça, ignorância, falta de respeito e de educação. Nestas situações, é difícil segurar a língua.

Aprendi com o Veríssimo que não existe a pessoa certa em nossa vida e, sim, a pessoa errada. E confesso que adoro sonhar com a pessoa errada. Já me apaixonei proibidamente, loucamente e já fui atingida por um amor à primeira vista. Tenho um amor platônico pelo Sorocaba.

Aprendi com a Martha Medeiros que a dor que dói mais é a saudade. Saudade do tempo que não volta mais, da pessoa que se foi, dos bons momentos. Saudade daquele olhar, daquele sorriso. Saudade de quem está longe.

Vivo de extremos. Tenho medo de ir ao médico e descobrir que sou bipolar. Costumo chorar quieta com a cabeça no travesseiro, quando ninguém está por perto. Desabo e tenho a sensação de que não vou sobreviver mais um dia. Mas aí Deus acalma meu coração e me faz ver que a vida continua. Afinal, o mundo não para pra que eu possa juntar os cacos e recomeçar. Mais uma que aprendi com Shakespeare.

Aprendi com o Nuno Cobra que não devo pedir nada para quem não gosta de fazer nada, porque quem não gosta de fazer nada está sempre ocupado. Aprendi que esperar retorno das pessoas erradas só prejudica a mim mesmo. E estou aprendendo a não me decepcionar com quem não vale a pena.

Acredito em sonhos, mas nem sempre corro atrás deles. Acredito em Deus, mas confesso que não rezo muito, nem vou à missa todos os domingos. Peço para Deus me mostrar o caminho certo, mas não sei interpretar a maioria dos seus sinais. Faço promessas para Santa Rita de Cássia. Não acredito em reencarnação, embora tenha a sensação de que algumas pessoas já passaram pela minha vida anteriormente. Prefiro acreditar que elas foram enviadas por Deus especialmente para cruzarem meu caminho.

Aprendi com a minha mãe que quando todo mundo está errado e só eu estou certa é porque a errada sou eu. Sempre penso nisso antes de julgar alguém e busco outras opiniões antes de condenar.

Aprendi com Adriana Lucena que pessoas cristãs, com espiritualidade, devem perdoar as pessoas de coração vazio e mente oca. Afinal, elas nunca vão saber o verdadeiro valor da vida. Mas confesso que tenho dificuldades em perdoar quem me fere. Costumo transformar a mágoa em desprezo. Preciso praticar mais a minha espiritualidade.

Já pensei em fugir e largar tudo. Já quis me esconder de mim mesma na Europa, no Canadá, nos Estados Unidos e até na Austrália. Mas percebi que, mais do que dinheiro, o que me faltava era a coragem. Também percebi que nunca vou conseguir fugir de mim mesma. Terei que conviver comigo a vida inteira.

Sou guerreira, mas não sou corajosa. Tenho medo de passos largos e de aventuras. Tenho medo de montanha russa, embora minha vida seja feita de altos e baixos. Tenho medo da torre, embora muitas vezes sinta que minha vida está em queda livre. Adoro o looping, porque ele me coloca em velocidade e me deixa voltar atrás e dar a volta por cima.

Amo o meu trabalho, a minha família, os meus amigos. Aprendi com o meu pai a ser honesta e a respeitar as pessoas. Aprendi com o meu avô Manoel Mataveli a ser brincalhona e a rir até nos momentos ruins. Aprendi com o meu avô Joaquim Gonzaga a ser generosa e a escutar ofensas calada.

Aprendi a querer aprender, e a não desistir da vida, a não desistir de mim.
Apesar de cheia de defeitos, hoje posso dizer que sou melhor que dez anos atrás e que, com certeza, daqui a dez anos serei melhor que hoje. Afinal, aprendi com o Pedro Bial que só o que está morto não muda. E morte é uma coisa que definitivamente não faz parte da minha vida imperfeita.

6 comentários:

Dri disse...

Fabiii!!
Perfeito seu texto!!!
Que orgulho em ter uma amiga que escreve assim: coração aberto, pensamento que flui e alegria que estrapola. Viver é aprender a cada dia, né? Que Deus nos ilumine, querida e nos ajude nessa caminhada!
Amo vc, amo a sua imperfeição! haha
bjos

Natália Torres disse...

Fabi, você não é perfeita, mas seu texto é! rs
Parabéns, conseguiu traduzir "perfeitamente" seus sentimentos e sua personalidade através das palavras. Espero que continue "mudada", porque está bem melhor, não perfeita, mas bem melhor.rs Aliás quem nesse mundo é perfeito? Se fossemos, com certeza não estaríamos nesse mundo.

beijos S2

Letícia Arcanjo disse...

Fabi, é muito gostoso ler textos assim. Faz a gente refletir sobre nossas atitudes, manias e outras coisas. O texto ficou muito bom. Mostra realmente como você é. Além disso, é muito importante poder analisar a si mesmo. Admiro pessoas que conseguem bfazer isso.

Parabéns mais uma vez.

Bjs.

Anônimo disse...

Parabéns querida, essa é a gabi que conheço.

Beijos

Unknown disse...

Querida... incrivel ler o que vc escreve.
Me vejo praticamente em frente ao espelho.
Em meio aos questionamentos que estou vivendo parece que tudo vem ao meu encontro.
As vezes me julgo tanto por não ser quem as pessoas querem que eu seja, mas acho q finalmente estou aprendendo a ser quem EU quero que EU seja. = )
Grande Beijo
Ariane

Nanda Moreira disse...

Fabi, estava mostrando pro meu pai um novo mundo a internet rsss quando ele me pediu pra achar você aqui, e o que encontramos não foi só a minha prima, mas a extraordinária escritora. Que texto lindo! Parabéns!!

Bjs Fernanda e Gonçalo